3 autoras brasileiras para aumentar seu repertório
Por Adele Grostein
Apenas recentemente alguns vestibulares que cobram listas de leitura obrigatória passaram a incluir nelas obras de autoria feminina. A presença de Quarto de despejo, de Carolina Maria de Jesus, na lista da Unicamp em 2019 e 2020 estimulou, desde então, outras provas a cobrarem – além da questão da mulher e da opressão que ela sofre historicamente – conhecimentos ligados à população negra e ao racismo no Brasil, em especial no que diz respeito à condição da mulher negra, particularmente. Por isso, ler escritoras negras brasileiras que tratam desse assunto pode te auxiliar em questões de Literatura e de outras disciplinas de Humanidades, e também pode aumentar seu repertório a ser empregado em possíveis temas de redação. Nos últimos anos, cada vez mais autoras negras têm sido publicadas, lidas e estudadas no Brasil, de modo que esse grupo de poetas e prosadoras já é expressivo. Por ora, apresentaremos três delas:
Vamos começar por Esmeralda Ribeiro, escritora paulistana que, desde a década de 1980, dedica-se à luta antirracista no país. Em seus contos e poemas, Esmeralda alia militância política com notável qualidade estética. Além de dominar a escrita em verso e em prosa, a obra da autora é marcada por uma considerável variedade temática. Dentre os seus temas mais frequentes, estão a valorização da sexualidade negra feminina, a ancestralidade africana e a metalinguagem, por meio da qual Esmeralda reflete sobre o seu próprio processo de criação literária, por vezes ressaltando as especificidades da mulher negra no trabalho artístico com a palavra.
A escritora Cristiane Sobral nasceu no Rio de Janeiro e vive atualmente em Brasília. Assim como Esmeralda, Cristiane é autora de uma vasta obra – entre contos e poemas – presente em inúmeras antologias e publicações individuais. Como se não bastasse ser escritora, Cristiane desenvolve, desde o final dos anos 1980, uma bem-sucedida carreira no teatro, como atriz, diretora e dramaturga. Dotada de grande versatilidade criativa, a artista une escrita com encenação teatral, de modo que ambos os trabalhos se complementam. Os seus textos trazem em si traços de dramaticidade provenientes de sua experiência nos palcos. E, da mesma forma, a literatura se torna um elemento fundamental em sua carreira de atriz. A combinação entre diferentes formas de arte – somada ao combate ao racismo e à potente representação da mulher negra – tornam a obra de Cristiane Sobral indispensável para quem deseja se aprofundar e se deliciar na literatura negra feminina.
Por fim, nascida em Juazeiro do Norte, no Ceará, e hoje residente em São Paulo, a jovem escritora Jarid Arraes é muito reconhecida por seus cordéis e por sua intensa pesquisa sobre mulheres, sobretudo negras, que fizeram história em diversas esferas do conhecimento. Desde muito nova, a autora participa de iniciativas, coletivos e ONGs feministas, vivências recriadas poeticamente em seus textos. A obra de Jarid nos dá o privilégio de ter contato com a poesia de cordel, manifestação literária muito praticada na região Nordeste. A cordelista também nos oferece a oportunidade de aprender sobre mulheres negras extremamente importantes para a cultura brasileira e que, por muito tempo, foram invisibilizadas pelo racismo e pelo machismo. Jarid permite ao leitor conhecer essas mulheres guiado por um olhar notadamente sensível e poético. A autora também escreve cordéis infantis e, para quem prefere prosa, os seus contos são uma excelente opção de leitura.
A consciência social e racial que a sociedade em que Carolina Maria de Jesus viveu não tinha, hoje, felizmente, é evidenciada na produção de inúmeras escritoras negras contemporâneas. Esmeralda, Cristiane e Jarid se negam a reproduzir o senso comum sobre preconceito de cor e de gênero. Por meio de uma literatura repleta de poeticidade, elas se debruçam sobre esses assuntos, denunciam práticas discriminatórias e, aos poucos, ajudam a promover significativas transformações sociais.
Você está convidado a ler as obras dessas três grandes autoras e aproveitar o aprendizado e o prazer estético que elas têm a nos oferecer. Assim, além de somar forças na luta pela igualdade racial e de gênero, você ainda estará formando um repertório que pode te ajudar muito (e talvez até inspirar!) nas provas de vestibular.
Boa leitura!
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