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A importância do Dia da Consciência Negra

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19/11/2021 16h51

Símbolo do movimento negro

*Por Heitor Ribeiro, professor do Anglo Vestibulares 

Em 13 de maio de 1888, o Brasil, através da lei Áurea, encerrava o longo ciclo da escravidão oficial no país. Fomos o último país do continente a encerrar esse ciclo, que foi hegemônico no país por mais 300 anos. Nenhum de nós, hoje, pode entender efetivamente o que é pertencer materialmente a outra pessoa – podemos estudar, ler, até mesmo caracterizar o que é a escravidão e como funcionou, mas não sabemos o que é ser desprovido forçadamente de identidade e se tornar um objeto, uma mercadoria, uma coisa nas mãos de um outro.

Um período tão longo e com características tão importantes e estruturantes obviamente criou raízes profundas em nossa sociedade, e, quando falo raízes profundas, vou muito além da desigualdade social, das diferenças salarias e de posições de poder entre negros e brancos – que são, sim, objetos reais e importantes de serem corrigidos. Me refiro a toda a relação cultural e ideológica que contribuiu para segregar e limitar a cidadania da população negra, o racismo.

O Brasil não foi o país a criar o racismo, mas somos, sim, como fruto dos mais de 300 anos de escravidão, responsáveis por um Direito lombrosiano, pela formação de uma República que não buscou ações de reparação, pela perseguição às religiões de matriz africana e pela facilidade com que aceitamos a pobreza entre a população negra e a violência contra ela. Somos um país racista. E essa violação cultural e ideológica é um obstáculo tão – quiçá mais – difícil de transpor quanto a desigualdade econômica; uma vez que os três séculos de escravidão foram responsáveis não somente por definir a posição econômica do escravizado, mas por também suprimir sua língua,  sua fé, impedir a formação de famílias – observe-se que os filhos gerados por escravos eram também escravos dos senhores e podiam ser comercializados e violentados das mesmas formas que os adultos –, distanciá-los da educação e lhes impor padrões ideológicos e étnicos radicalmente distintos dos que existiam em suas comunidades. E é por isso que é preciso falar sobre a importância do 20 de novembro.

20 de novembro, data escolhida para celebrar o Dia da Consciência Negra, marca o aniversário da morte de Zumbi, líder do quilombo dos Palmares, destruído por atuação de bandeirantes em 1695. Tal escolha é emblemática, pois Palmares e Zumbi representam a resistência da população negra ao modelo escravista que era imposto, mostrando que, desde o período colonial, a população de origem africana não foi passiva quanto à sua escravização e buscou, com os meios que tinha à época, diversas maneiras de resistir à situação. Assim, data também visa dar visibilidade à luta daqueles que foram escravizados e contribuíram para o fim da escravidão no Brasil.

O Dia da Consciência Negra foi pensado não apenas para motivar a reflexão da situação da população afro-brasileira no país e de quais caminhos devemos seguir para superarmos essas barreiras que ainda são colocadas, ele é um reflexo das lutas da população negra, por mais espaço, inclusão e respeito. Não é uma data que foi dada, e sim conquistada. Tampouco é um dia para se celebrar, é um dia para lembrar, pois lembrar também é resistir e, de alguma forma, devolver a autoestima e a confiança às pessoas que as tiveram constantemente roubadas, seja através dos séculos de escravidão e tráfico negreiro, seja através das práticas, às vezes veladas, do racismo.


Sobre os Autores

O Dicas de Vestibular é produzido e atualizado pelos professores do Anglo Vestibulares e do Sistema Anglo de Ensino.

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