Manifestações e a crise econômica em Cuba
Por Sebastian Fuentes, professor do Anglo Vestibulares
Significativas e históricas manifestações contra o governo, crise econômica, forte repressão policial, agravamento da pandemia de COVID-19, desabastecimento dos supermercados, rotineiros apagões de energia e diversas críticas internacionais fizeram de julho de 2021 um mês a ser lembrado na Ilha caribenha de Cuba. Para entender essa complexa situação, é necessário voltar um pouco na história.
Desde a década de 1960, os Estados Unidos da América estabeleceram um embargo econômico contra a Ilha sob a justificativa de não auxiliar e financiar países que não respeitam liberdades fundamentais e de pressionar por uma abertura democrática do país, que teve por muito tempo como grande aliada e "salvadora econômica" a União Soviética (URSS). É importante ressaltar que o embargo econômico contra a Cuba tem origens na bipolarização do mundo em um período que ficou conhecido como Guerra Fria. No entanto, mesmo com o fim desse momento histórico, o bloqueio econômico (como é conhecido em Cuba) segue com o aval do Congresso dos EUA e já soma 29 anos consecutivos de pedidos de fim pela Assembleia Geral da ONU.
Durante o governo Obama nos EUA e de Raul Castro em Cuba, ocorreu uma aproximação histórica entre os dois países, possibilitando algumas flexibilizações no embargo econômico e um maior aporte financeiro no setor de turismo em Cuba – setor de grande importância econômica na ilha, principalmente após o fim da URSS, em 1991. Como parte das reformas políticas que Cuba se comprometeu a realizar, o governo central passou a permitir o uso, ainda que limitado, da internet e das redes sociais, fato que colaborou com uma maior presença e atuação de manifestações sociais, não necessariamente favoráveis ao governo comunista.
Trazendo mais para a atualidade, durante a gestão de Donald Trump nos EUA, os esforços de reaproximação foram perdidos com a volta total do embargo econômico e com discursos agressivos, principalmente por parte dos EUA — Trump, em seus últimos dias de mandato, adicionou Cuba à lista de países que patrocinam o terrorismo. Isso trouxe de volta o clima de polarização e agravou mais ainda a crise econômica cubana, que teve como grande baque a pandemia da COVID-19.
O grande estopim para as recentes manifestações em Cuba foi justamente esse agravamento da crise econômica, fruto, ainda que haja outros fatores, em boa parte da quebra do setor de turismo da ilha, que dependia fortemente do dinheiro trazido pelos turistas. Agora, com a pandemia da COVID-19, essa fonte praticamente se esgotou.
Com tudo isso, especialistas apontam Cuba como um complexo cenário da geopolítica global. Por um lado, temos um regime fechado e com claros impedimentos a liberdades fundamentais e a certas liberdades econômicas, e, por outro, temos a maior potência econômica global impedindo e dificultando relações econômicas com a ilha, provocando, de acordo com o governo cubano, um prejuízo de US$ 144 bilhões em seis décadas de embargo. A soma de todas essas situações, aliada à modernidade e fluidez com que as redes sociais influenciam a sociedade, ajudam a entender um pouco a atual situação das manifestações em Cuba.
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