A Primavera Árabe
Por Gianpaolo Dorigo, professor do Anglo Vestibulares
Primavera Árabe é o nome dado a um conjunto de manifestações populares, levantes sociais e revoltas políticas que abalaram o mundo árabe a partir de 2010 e ao longo da década seguinte. Ela atingiu diversos países árabes tanto no oriente Médio quanto no norte da África, e seus efeitos são sentidos em muitos deles até hoje.
O movimento foi caracterizado pelo caráter antiautoritário — reforçado pela intolerância com a corrupção reinante em muitos regimes dos países envolvidos — e pelo ciberativismo, isto é, utilização em larga escala de meios digitais (por exemplo, redes sociais) para divulgação e articulação do movimento. Quanto ao caráter democratizante, este deve ser matizado, tendo em vista a forte influência da religião nesses países, o que acaba trazendo dificuldades na criação de um regime laico.
A início da Primavera Árabe ocorreu na Tunísia, no final de 2010, quando o jovem Mohammed Bou-Azizi promoveu um protesto dramático: ateou fogo em si próprio, como forma de protesto contra autoridades policiais corruptas que extorquiam propina do pequeno negócio familiar que mantinha. O evento foi o estopim da Revolução Tunisina, resultando na derrubada do regime de Zine El Abdini Ben Ali, que governava o país nos últimos 23 anos, seguindo-se a democratização do país.
Já em países como Líbia e Síria, a Primavera Árabe instaurou prolongada guerra civil, que continua até hoje. Na Líbia, o ditador Muammar Kadafi — no poder havia 42 anos — foi derrubado e assassinado, inaugurando um prolongado período de instabilidade, que inclui a fragmentação do país nas mãos de diversos grupos (inclusive étnico-tribais) e a instalação e atuação em larga escala do grupo fundamentalista terrorista Estado Islâmico. Na Síria, a situação foi desesperadora, com a tentativa de derrubada de Bashar Assad — presidente desde o ano 2000, filho de Hafez Assad, que permaneceu 29 anos no poder — desencadeou violenta e prolongada guerra civil, que devastou o país, promoveu um maciço fluxo de refugiados e provocou a morte de quase meio milhão de pessoas.
No Egito, em 2013, o presidente Hosni Mubarak (30 anos no poder) foi derrubado e, em seguida, julgado e condenado por corrupção. Iniciou-se um prolongado período de instabilidade política, no qual a construção de novas instituições foi seriamente questionada, sobretudo pela liderança das Forças Armadas no processo, forças que apoiavam Mubarak até sua queda. Grupos islâmicos como a Irmandade Muçulmana têm criticado o novo regime e boicotado sistematicamente as eleições, que levaram ao poder o presidente Abdel Fattah el-Sisi, por duas vezes, nos pleitos de 2014 e 2018.
Argélia, Iêmen, Iraque, Jordânia, Líbano, Bahrein, Marrocos, Sudão, Omã e Kuwait também presenciaram agitações desde 2010, em maior ou menor escala. Como principal consequência da Primavera Árabe, pode-se observar a crescente instabilidade política da região e o enfraquecimento do mundo árabe, mais do que nunca incapaz de articular políticas ou iniciativas comuns em política internacional. Além disso, o colapso do estado em diversos países árabes acabou resultando no reforço das autoridades islâmicas, à medida que a religião passou a ser, em muitos casos, uma forma alternativa de agregação da população em comunidade.
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