A detecção de fosfina em Vênus
Por Philippe Spitaleri, professor do Anglo Vestibulares
No dia 14/09/2020, um grupo de pesquisadores da Universidade de Cardiff, localizada no País de Gales (Reino Unido), noticiou que havia encontrado a presença da substância fosfina (PH3) na atmosfera do planeta Vênus. Apesar de essa informação ter sido veiculada somente recentemente, a detecção da substância pelos pesquisadores ocorreu em dois momentos diferentes: em 2017, por meio da utilização do telescópio James Clerk Maxwell, localizado no Havaí; e em 2019, utilizando o telescópio ALMA, localizado no deserto do Atacama, no Chile. Essa detecção ocorreu por meio de análises espectroscópicas baseadas em ondas de rádio, emitidas pelos componentes presentes na atmosfera de Vênus e detectadas pelos radiotelescópios mencionados.
A fosfina (PH3) é uma substância formada por átomos de hidrogênio e fósforo organizados em um arranjo geométrico piramidal, é polar, tóxica e inflamável.
Essa substância é comumente formada na decomposição da matéria orgânica, sendo sua produção favorecida em condições anaeróbicas (ausência de oxigênio). Devido à sua alta inflamabilidade, pode dar origem a um fenômeno denominado fogo-fátuo, observável em regiões onde há decomposição intensa de matéria orgânica, como pântanos e cemitérios. O fogo-fátuo é gerado pela ignição e combustão da fosfina, o que dá origem a uma chama azulada, já confundida, devido ao seu local de ocorrência, com manifestações fantasmagóricas e sobrenaturais.
Mas por que a detecção dessa substância, comum na Terra, na atmosfera de Vênus causou tanta surpresa na comunidade científica?
Um primeiro ponto que se pode se citar é o fato de a atmosfera de Vênus apresentar nuvens contendo altas concentrações de ácido sulfúrico, o que poderia levar à degradação da estrutura da fosfina.
Mas a condição mais interessante, e que levou à especulação sobre a existência de algum tipo de forma de vida no planeta, é que não se conhece, na Terra, processos naturais não-biológicos que levem a formação dessa substância. Desse modo, a sua detecção na atmosfera de Vênus pode indicar, ainda que com muita ressalva, a existência de atividade biológica no planeta — embora, os cientistas não tenham descartado a possibilidade de existirem processos químicos geológicos em Vênus, desconhecidos na Terra, de formação da fosfina.
Assim, como em todo processo científico legítimo, existem ainda muito mais dúvidas e questionamentos do que certezas, os quais levarão a diversas pesquisas e estudos nos próximos anos. Há, inclusive, projetos da NASA de enviar sondas exploratórias para o planeta para realização de coletas de materiais.
Este, portanto, é somente mais um capítulo da longa jornada da humanidade na exploração espacial.
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