Imunidade de rebanho
Por Gabriel Antonini , professor do Anglo Vestibulares
O surto de infecções pelo vírus SARS-Cov2 se iniciou em dezembro de 2019, data em que a China notificou a Organização Mundial da Saúde (OMS) que havia inúmeros casos de pneumonia relacionados à uma nova doença, denominada Covid-19. No entanto, somente no início de 2020 que se evidenciou a gravidade do potencial epidemiológico da doença, a partir de um comunicado da OMS que notificou que situação era considerada um caso de emergência de Saúde Pública.
Desde então, a doença se espalhou rapidamente pelo mundo, sendo que as medidas de distanciamento social foram as únicas que se mostraram eficazes na contenção desta doença, que em março já havia se tornado uma pandemia. Para todos que vivem esta realidade, uma pergunta paira no ar: quando tudo voltará ao normal? O que é necessário para que possamos restabelecer nossas rotinas? A resposta é simples: imunização. Quanto mais aumentar a porcentagem de indivíduos imunizados na população, menores serão as taxas de transmissão de covid-19, o que progressivamente frearia a pandemia. Mas o que é necessário para que isso ocorra?
A imunidade por ser obtida de duas maneiras: naturalmente – quando nosso organismo entra em contato com o agente patogênico que causa determinada doença e desenvolve mecanismos de combate a ele – ou artificialmente – quando esses mecanismos de defesa são estimulados por uma vacina. Como ainda não há vacinas disponíveis para a covid-19, nos resta apenas a imunização natural. No entanto, antes que nosso sistema imunológico seja capaz de combater naturalmente a infecção, o vírus se reproduz, o que resulta na progressão da doença e no contágio de pessoas saudáveis.
Nesse contexto, se discute a imunidade de rebanho. Ela consiste na proporção de indivíduos naturalmente imunizados de uma população que é necessária para refrear o avanço dos contágios de uma doença. Este impedimento na cadeia de transmissão acontece porque pessoas imunizadas possuem uma memória imunológica contra os vírus, e produzem anticorpos que os eliminam assim que a infecção ocorre. Com isso, o vírus não se reproduzirá no organismo da pessoa, evitando que ela o passe para outros indivíduos susceptíveis à infecção.
A imunidade de rebanho é atingida quando cada pessoa doente contamina, em média, menos de um indivíduo saudável.
A eliminação dos vírus do organismo no indivíduo imunizado acontece através resposta imunológica humoral, em que nosso sistema imunológico desenvolve a capacidade de produzir anticorpos específicos que podem reconhecer e eliminar agentes que podem causar doenças. Na primeira vez que microrganismos, como vírus, bactérias ou protozoários entram em nosso organismo, se inicia uma resposta imunológica primária. Nela, células do sistema imunológico reconhecem algumas moléculas dos microrganismos como estranhas ao nosso corpo. Estas moléculas são classificadas, de forma geral, como antígenos. As células que reconheceram os antígenos apresentam-nos à outras células do sistema imunológico, denominadas linfócitos B, que passam a se multiplicar. Em seguida, os linfócitos B se diferenciam em células especializadas na produção de anticorpos, os plasmócitos.
Com o tempo, a concentração de anticorpos no sangue aumenta, eliminando a infecção. Como a resposta imunológica primária é lenta, até que sejam produzidos anticorpos em grandes concentrações, há a possibilidade dos microrganismos se reproduzirem e causar danos ao nosso organismo. Mas por que pessoas que passaram por este processo podem barrar a cadeia de transmissão da covid-19?
Durante a resposta imunológica primária, alguns dos linfócitos B se tornam células especializadas, denominadas células de memória. Mesmo após a cura da infecção, estas células permanecem em nosso sangue. Se esta pessoa entrar novamente em contato com o vírus, as células de memória rapidamente irão se multiplicar e se diferenciar em plasmócitos. Com isso, haverá uma rápida e intensa produção de anticorpos, que eliminará os vírus antes que possam se reproduzir e passar para outras pessoas.
A segunda exposição a um mesmo antígeno gera uma resposta imunológica secundária, que é mais rápida intensa e duradoura.
A porcentagem de pessoas de uma população que tem que estar imunizadas para atingir a imunidade de rebanho pode variar em função das diferenças no risco de contágio das pessoas susceptíveis à doença. No caso da covid-19, podemos separar as causas dessas diferenças em dois grupos: biológicas, como genética e nutrição, e sociais, como o nível de contato com outras pessoas, condições de moradia e o deslocamento diário. Pesquisadores tem tentado determinar qual seria a proporção de indivíduos imunizados que seria necessária para atingir a imunidade de rebanho para covid-19. Para avaliar a influência dos fatores que causam variabilidade na susceptibilidade à doença na chegada ao limiar que resultaria na imunidade de rebanho, os pesquisadores têm analisado como a curva epidemiológica tem se comportado em diferentes regiões. No entanto, ainda não há um consenso em qual deve ser a porcentagem de pessoas imunizadas para que a imunidade de rebanho seja atingida.
A imunidade de rebanho não é forma ideal de se obter a imunização de uma população, já que para que ela seja atingida, é necessário que muitas pessoas tenham que se contaminar, o que elevaria as taxas de internação e de mortalidade. Além disso, deve-se também contabilizar as possíveis sequelas que as infecções poderiam deixar àqueles que se recuperaram dela. No caso de uma doença nova, como a covid-19, muitos desses danos permanentes ainda estão sendo descobertos. A estes fatores deve-se a importância da descoberta de uma vacina eficaz e segura, que seria uma forma artificial de adquirir a imunização. Ela traria a imunidade necessária para refrear a pandemia sem que houvesse as contrapartidas que podem ocorrer durante o processo de imunização natural a esta doença.
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