Os efeitos de Chernobyl na História da URSS e no vestibular
*por Eduardo Duique, professor do Anglo Vestibulares
O acidente do reator em Chernobyl (…) foi, talvez mais que a perestroika (abertura) iniciada por mim, a verdadeira causa do colapso da União Soviética – Mikhail Gorbatchev
A recém lançada minissérie da HBO reacendeu a atenção sobre um assunto já tradicional em vestibulares e exames no Brasil: o acidente nuclear de Chernobyl, ocorrido em 1986. O assunto costuma ser abordado por múltiplas disciplinas, desde a física, geografia e biologia – preocupadas com as formas, forças e efeitos da radiação – até a história – para a qual o acidente é um símbolo. E a história é feita de símbolos.
Durante os anos 80, as Repúblicas da União Soviética e os demais países do denominado bloco socialista já emitiam sinais de crise em todas as esferas. Chernobyl as representava de forma explosiva.
A começar pela esfera política, as críticas internas e externas ao regime só fizeram crescer. As mais moderadas acusavam os governantes soviéticos de morosidade e incompetência ao reagir ao acidente, as mais graves pintavam um quadro sombrio de um Estado Totalitário capaz de censurar e manipular notícias, mentir para sua população e até mesmo matar para evitar que a tragédia afetasse sua reputação.
No campo econômico ficava claro que a economia planificada e estatal dos países socialistas soviéticos não conseguia acompanhar o ritmo de seus rivais do rico mundo capitalista. Os reatores orientais eram produzidos sem os mesmos critérios de segurança de modo a serem mais baratos. As mesmas dificuldades eram encontradas em diversos outros setores. A URSS perdia a guerra tecnológica e industrial.
No plano ideológico e psicológico, a explosão foi um duro golpe. A crença no socialismo de modelo soviético sempre foi alimentada por vitórias simbólicas, nas quais a tecnologia teve papel fundamental. Os Estados Socialistas e seus cidadãos se orgulhavam de suas proezas científicas. Foguetes e satélites espaciais, indústrias de ponta, trens velozes, mísseis, estações de metrô gigantescas eram provas de estar do "lado certo" da história prevista por Karl Marx, eram símbolos da vitória futura da revolução proletária internacional e Comunismo vindouro. Mas não foi assim. Chernobyl expôs o que muitos já percebiam: a União Soviética estava ficando para trás, pois o mundo ocidental capitalista e liberal, e seus símbolos também, tornava-se mais e mais próspero e atraente.
Não por coincidência, os anos que seguiram a explosão do reator foram marcados por outros eventos de enorme impacto simbólico. O muro de Berlim veio abaixo em 1989, enormes manifestações de rua em 1990, um show "Monsters of Rock" com bandas ocidentais em Moscou em 1991. Cada um à sua maneira, esses eventos marcaram a memória dos últimos homens e mulheres da União Soviética. Tornaram-nos sensíveis à crise, à abertura e às mudanças pelas quais sua sociedade passava. Tais eventos foram e são formas de perceber a História.
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