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Museu Nacional: uma tragédia prevista e anunciada

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17/09/2018 14h43

Palácio da Quinta da Boa Vista, Rio de Janeiro – Wikipédia – acesso em 9/09/2018

Em janeiro de 1808, a Corte de D. Maria I, rainha de Portugal, aportou em terras brasileiras deslocada pela ameaça das tropas de Napoleão Bonaparte que invadiram Lisboa. Governando em lugar da mãe, mentalmente incapacitada, coube ao príncipe-regente D. João de Bragança organizar a instalação do aparato de Estado português em chão ainda colonial. O Rio de Janeiro deslumbrava-se diante da primeira presença de um rei europeu em terras americanas. E a cidade, elevada a capital do Império Lusitano, viveu transformações para nunca mais ser a mesma de antes do Período Joanino (1808-1821).

O PALÁCIO IMPERIAL DE SÃO CRISTÓVÃO

De início, a Corte instalou-se no Paço da Cidade bem no centro e próximo ao cais. D. João e a família real necessitavam, no entanto, de acomodações mas amplas e dignas de sua condição. Foi então que um rico comerciante local, Elias Antônio Lopes, doou ao regente um palácio situado no alto da Quinta da Boa Vista, que ficaria conhecido como Paço de São Cristóvão.

Datado de 1803, o palácio de arquitetura inspirada no Palácio Real D'Ajuda em Lisboa, após reformas e ampliações, ocupa hoje 155 mil metros quadrados com fachadas e jardins no estilo neoclássico francês. Ali D. João VI, já como rei, permaneceu até o retorno a Portugal em 1821. São Cristóvão foi também residência do Imperador D. Pedro I de 1822 a 1831, ano de sua abdicação ao trono. E seu herdeiro, D. Pedro II, costumava dividir seu tempo entre o palácio da Quinta da Boa Vista e o Palácio de Petrópolis, onde hoje está instalado o Museu Imperial.

Proclamada a República, com o golpe militar de 15 de novembro de 1889, o novo governo não ocupou nenhum dos três referidos prédios que a monarquia utilizara e se instalou no Palácio do Itamaraty. A Quinta da Boa Vista, porém, abrigou a primeira Assembleia Constituinte republicana que promulgou a Constituição dos Estados Unidos do Brasil, em 1891.

O MUSEU NACIONAL DA QUINTA DA BOA VISTA

Entre vários outros órgãos e instituições, D. João VI criou o Museu Real, fundado em 6 de junho de 1818 e instalado no Campo de Santana, no centro carioca. Ali apresentavam-se coleções de mineralogia e de zoologia com a finalidade de promover o progresso socioeconômico e a difusão da educação, da ciência e da cultura. Foi o primeiro centro de pesquisas científicas do país. O crescimento do seu acervo, com a contribuição dos nossos imperadores e respectivas imperatrizes Leopoldina e Tereza Cristina, forçou a transferência do Museu para o Palácio da Quinta, que passou a se denominar Museu Nacional.

Tornou-se o maior da América Latina com mais de 20 milhões de itens catalogados nas áreas de geologia, paleontologia, arqueologia, etnologia, antropologia biológica, botânica e zoologia. Suas bibliotecas chegaram aos 470.000 volumes, 2.400 dos quais obras raras. Em 1946, o Museu foi incorporado à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Dentre as inúmeras preciosidades expostas no Museu Nacional, o visitante poderia apreciar o Meteorito de Bendegó, o maior já encontrado no Brasil com 5,36 toneladas e idade calculada em 4,56 bilhões de anos. Em 1784, foi achado em Monte Santo, Bahia. Numa sala só para ele, lá estava o maior dinossauro montado no Brasil, com 13 metros de comprimento e 9 toneladas, que viveu no Triângulo Mineiro há 80 milhões de anos. Noutro ambiente, o visitante via-se diante do crânio de um Tiranossaurus rex.

Para os fãs de arqueologia, a maior coleção de múmias egípcias da América Latina incluía o sarcófago jamais aberto da sacerdotisa-cantora Sha Amum Em Su, da cidade de Tebas (Luxor), e também a múmia da "Princesa" Kherima cercada de mistérios, além de outras tantas peças mumificadas da América Pré-colombiana, animais, plantas fossilizadas já extintas, etc. Até afrescos da cidade de Pompeia, destruída pelo vulcão Vesúvio em 79 d. C., podiam ver admirados em murais trazidos da Itália pela imperatriz Tereza Cristina.

Uma Crônica de Nuremberg com mapas antigos de 1493, um exemplar da 1ª edição d'Os Lusíadas de 1572, a "Arte da gramática da Língua Portuguesa", do Padre José de Anchieta em 1ª edição de 1595, 55 pranchas do pintor holandês Frans Post (1647), um pergaminho do século XI com manuscritos em grego dos quatro Evangelhos, uma edição completa da Encyclopédie Française do século XVIII também compunham o acervo.

De valor científico incalculável, lá estavam os restos mortais que provocaram uma reviravolta nos postulados arqueológicos sobre a presença humana nas Américas. Em 1974, foi descoberto na Lapa Vermelha, região de Lagoa Santa (MG), o esqueleto de uma mulher com idade entre 20 e 25 anos que comprovou essa presença em terras brasileiras entre 11.500 e 13.000 anos. Foi batizada Luzia, em alusão a Lucy, outro fóssil descoberto na África de datação mais antiga. A tecnologia permitiu a reconstituição do rosto de Luzia, de modo a demonstrar traços mais próximos dos povos africanos que a dos ameríndios de provável origem asiática e com presença posterior por aqui.

O PREÇO DO DESCASO 

No domingo dia 2 de setembro de 2018, após o encerramento da visitação, um incêndio tomou conta do prédio do Museu Nacional. Duzentos anos depois de sua fundação, o primeiro centro de pesquisas do Brasil perdeu praticamente tudo. A tragédia prevista e anunciada veio na trilha de outros incêndios, como o do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, em 1978, no Memorial da América Latina, em 2013, no Museu da Língua Portuguesa, em 2015, e no Instituto Butantã, em 2016. Estes últimos em São Paulo.

Tais ocorrências denunciam mais que o descaso de gerações de elites dirigentes e governos com a preservação do patrimônio histórico e artístico brasileiro; apontam para a precarização planejada das instituições de pesquisas num projeto de desconstrução da cultura nacional. Outros tantos museus e centros com tesouros da nossa memória estão hoje igualmente ameaçados. Em 2022, o Brasil celebrará 200 anos da independência. Será no Museu Paulista, no bairro do Ipiranga, em São Paulo?

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O Dicas de Vestibular é produzido e atualizado pelos professores do Anglo Vestibulares e do Sistema Anglo de Ensino.

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