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80 anos de Vidas Secas: o retrato do Nordeste pintado por Graciliano Ramos

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22/01/2018 13h49

Vidas Secas, um dos romances mais celebrados e estudados de nossa literatura, completa 80 anos. Verdadeiro patrimônio da cultura brasileira, a obra conjuga denúncia com a investigação profunda da alma de miseráveis situados no grau zero da escala social, ali onde os limites que separam o ser humano da animalidade são imprecisos.

Escrito pelo alagoano Graciliano Ramos (1892-1953), o romance narra a trajetória de uma família de retirantes em busca de alguma estabilidade na vida. Cada capítulo é uma espécie de quadro independente em que se mostram diferentes aspectos da miséria sertaneja. Os pobres são carentes de tudo; são rudes, sem a mínima sofisticação. Em uma das cenas mais tocantes, Fabiano, o pai da família, chega a pensar em abandonar o filho desfalecido em meio à caatinga. Era uma forma de prosseguir a viagem penosa. Contudo, tocado pelo sentimento de proteção, acaba por levar o menino nos braços.

Naquele ambiente inóspito, ser um homem bruto é ter capacidade de resistir. "O sertanejo é antes de tudo um forte" – já dissera Euclides da Cunha a respeito de pessoas como Fabiano. Resistir às imposições da natureza, mas, também, resistir a uma estrutura social que se compraz em explorar os que mal sabem falar para lutar pelos seus direitos. Em sua ignorância, Fabiano chega a perceber a força das palavras. Embora forte como um bicho, ele se sente fraco e desprotegido diante de um patrão que o engana e de um soldado que o oprime.

Assim, a pessoas como ele só resta a condição de animalidade. O leitor imediatamente encontrará uma relação com o zoomorfismo, característica comum aos romances de tese oitocentistas. Mas há aqui uma clara diferença: no romance de tese, a animalidade atinge a todos, sejam ricos ou pobres. Todos agem apenas para saciar os seus instintos. Já em Vidas Secas, a animalização do homem tem um caráter de denúncia social, atingindo apenas os miseráveis. Ela demonstra como uma parcela da população brasileira estava relegada à condição de bichos, completamente esquecida pelas autoridades. Vidas Secas tem o mérito de mostrar que, apesar de parecerem bichos, Fabiano e sua família são gente. É um belo propósito humanista. O narrador em terceira pessoa mostra sutilmente que aqueles retirantes apresentam um rico mundo interior, cheio de sonhos, de indignação e de memórias.

Comemorar oitenta anos dessa obra é lembrar que, em quaisquer condições, o ser humano deve manter acesa a chama de sua dignidade. É lembrar como boa literatura pode ser feita sem literatice, sem apelar para um estilo grandioso e oco. Vidas secas é enxuto: com poucos elementos, consegue uma enorme gama de efeitos estéticos. Enfim, lembrar a data é uma forma de trazer à consciência que os "Fabianos" (de ontem, de hoje e de sempre) são seres morais, e não deixam de carregar em si o brilho da Humanidade que faz de cada pessoa um ser único e infinito.

Sobre os Autores

O Dicas de Vestibular é produzido e atualizado pelos professores do Anglo Vestibulares e do Sistema Anglo de Ensino.

Sobre o Blog

Neste espaço, o estudante encontra temas da atualidade, conteúdos que mais caem nas provas e dicas para se sair bem nos processos seletivos e no Enem (Exame Nacional do Ensino Médio). O conteúdo também é útil aos interessados em provas de concursos.

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