Surto de Toxoplasmose: Doença, Riscos e Prevenção
Dicas de Vestibular
19/06/2019 13h23
* Por Gabriel Antonini, professor do Anglo Vestibulares e do Colégio Anglo São Paulo
Desde o início de março, foi registrado um aumento do número de casos de toxoplasmose na cidade de São Paulo. De acordo com dados divulgados pela Secretaria Municipal de Saúde, já foram registrados 79 casos neste período. A hipótese que vem sendo estudada para explicar o aumento é que a contaminação teria ocorrido a partir de restaurantes e buffets em diferentes regiões da cidade.
Em nota, a Coordenadoria de Vigilância em Saúde (Covisa) afirmou que "estão sendo investigadas fontes alimentares/situações de risco destes locais, assim como fornecedores de alimentos em comum". Para compreender a preocupação dos órgãos de vigilância e controle de epidemias, assim como a possível relação do aumento de casos de toxoplasmose com estabelecimentos comerciais de alimento, é necessário compreender mais a fundo as causas, consequências e formas de transmissão dessa doença.
A toxoplasmose é uma parasitose causada pelo protozoário Toxoplasma gondii (T. gondii). Essa doença é assintomática na maior parte dos casos em que um indivíduo com sistema imunológico sadio é infectado. Mesmo quando presentes, os sintomas são leves e semelhantes aos de uma gripe: linfonodos inflamados, cansaço, dores musculares e de cabeça. No entanto, há dois grupos de risco que podem estar relacionados com o desenvolvimento de uma forma mais grave da toxoplasmose: indivíduos com o sistema imunológico debilitado, e gestantes. Mulheres grávidas que nunca tiveram toxoplasmose não possuem anticorpos para combater o protozoário. Com isso, é possível que o protozoário vá até a placenta e chegue ao feto em desenvolvimento. Nesse caso, o feto poderá desenvolver a toxoplasmose, denominada toxoplasmose congênita, que pode, então, causar cegueira, miocardite, problemas pulmonares, confusão, convulsões e danos ao sistema nervoso.
O T. gondii é um parasita que infecta uma grande variedade de vertebrados, como répteis, aves e mamíferos. Os gatos domésticos e outros felídeos são os principais hospedeiros desse protozoário. Somente neles o Toxoplasma é capaz de se reproduzir sexuadamente, sendo, portanto, classificados como hospedeiros definitivos. Nos demais vertebrados só há reprodução assexuada, caracterizando-os como hospedeiros intermediários.
Legenda: Ciclo biológico do Toxoplasma gondii. Disponível em https://www.crmvsp.gov.br/arquivo_zoonoses/TOXOPLASMOSE_SERIE_ZOONOSES.pdf (site do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado de São Paulo)
A fase sexuada da reprodução do protozoário se limita às células do epitélio intestinal de gatos. Nas fezes do gato, são eliminados oocistos, que contaminam a água, o solo e os alimentos de outros vertebrados (aves, redores, bovinos, suínos, entre outros).
Quando esses animais ingerem os oocistos, são liberadas em seu intestino formas contaminantes do protozoário, que rapidamente invadem outras vísceras, o sistema nervoso central e a musculatura esquelética. No entanto, se este hospedeiro estiver com um sistema imunológico saudável, os protozoários são combatidos, resultando na formação cistos. Eles se alojam nos tecidos e permanecem latentes, sem causar doença. Se um gato se alimentar de uma ave, de um roedor ou da carne de um vertebrado que esteja contaminado, o Toxoplasma se reproduzirá sexuadamente em seu epitélio intestinal, retomando o ciclo reprodutivo.
O contágio da toxoplasmose pelo homem pode ocorrer de diversas maneiras: pela ingestão de alimentos e água contaminados pelas fezes dos gatos, pela ingestão de carne contaminada malcozida, por transmissão placentária e, mais raramente, por transfusões sanguíneas ou transplante de órgãos. São consideradas medidas preventivas contra a toxoplasmose: não ingerir carne crua ou malpassada, lavar bem alimentos que serão ingeridos crus e evitar contato com as fezes de gatos ou de outros felinos. Para evitar o contágio de gatos domésticos, é importante que eles sejam alimentados apenas com ração e evitar, sempre que possível, que se alimentem de carne crua ou de outros animais.
As investigações dos surtos nos diferentes bairros da cidade de São Paulo indicam que as contaminações foram provavelmente causadas por transmissão alimentar. No entanto, em nota, a Secretaria Municipal de Saúde divulgou que os testes realizados nos estabelecimentos ligados aos casos foram negativos. Isso, associado à ausência de contaminações mais recentes, pode indicar que os surtos foram pontuais, o que reduz as chances de uma contaminação em larga escala.
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