filosofia – Dicas de Vestibular http://dicasdevestibular.blogosfera.uol.com.br Neste espaço, o vestibulando vai encontrar orientações, conteúdos que mais caem nas provas e dicas para se sair bem nos processos seletivos e no Enem (Exame Nacional do Ensino Médio). O conteúdo também pode ser útil aos interessados em provas de concursos. Fri, 31 Mar 2023 16:58:21 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Qual é a importância da Escola de Frankfurt? http://dicasdevestibular.blogosfera.uol.com.br/2023/03/31/qual-e-a-importancia-da-escola-de-frankfurt/ http://dicasdevestibular.blogosfera.uol.com.br/2023/03/31/qual-e-a-importancia-da-escola-de-frankfurt/#respond Fri, 31 Mar 2023 16:41:54 +0000 http://dicasdevestibular.blogosfera.uol.com.br/?p=2941 *Por Felipe Leal, professor do Anglo Vestibulares

“Escola de Frankfurt” é o nome atribuído pela tradição a um conjunto de pensadores ligados ao Instituto para Pesquisas Sociais da Universidade de Frankfurt, na Alemanha. Inicialmente dedicado ao estudo e à organização da obra de Karl Marx, a instituição passou a ser um centro de pensamento interdisciplinar e heterogêneo que produziu novas leituras críticas da sociedade contemporânea.

Por pensamento crítico pode-se entender, de maneira abrangente, não reduzir o estudo da sociedade à descrição. Em vez disso, trata-se de tensionar, em cada momento e contexto, possibilidades e bloqueios à emancipação humana. A proposta, portanto, é olhar para o mundo de maneira aberta a possibilidades de autonomia e de combate a formas de opressão.

Um dos primeiros legados da escola se deu na interpretação de um fenômeno-chave do século XX: os chamados meios de comunicação de massa. Theodor Adorno e Max Horkheimer propuseram, nas décadas de 1930 e 1940, o conceito de Indústria Cultural. Para eles, as obras de arte haviam se tornado produtos industriais homogeneizados, associados à regressão da experiência estética e ao conformismo político. Já para Walter Benjamin, as novas técnicas de reprodução das obras (fotografia, cinema, gravadores de música) abriam possibilidades de acesso mais democrático às artes e mesmo de consciência de classe.

O debate sobre os meios de comunicação e novas formas de opressão relacionava-se à emergência do fascismo e do nazismo. E a como a democracia não deixava de ter suas formas, sutis, de dominação, revestidas de técnica e de razão.

No cenário do pós-guerra, Jürgen Habermas, que trabalhou com Adorno, debruçou- sobre a questão democrática. Criticando elementos como a colonização da política pela lógica do mercado, ele propôs um modelo de democracia deliberativa que via possibilidades emancipatórias para o regime surgido com as Revoluções Burguesas. Tratava-se de buscar uma democracia que incluísse as pessoas atingidas pelas decisões e que envolvesse um debate racional voltado ao consenso. Uma democracia, portanto, mais inclusiva e aberta a uma noção de razão comunicativa, pautada no debate.

Mais recentemente, com a emergência política de movimentos ligados a questões como gênero e raça, autores ligados aos frankfurtianos promoveram um debate importante sobre reconhecimento e redistribuição. O primeiro termo abrange questões como a busca de respeito e o combate a discriminações de ordem cultural. Todas As lutas políticas, segundo Axel Honneth, visam, em última instância, à busca da dignidade em forma de reconhecimento.

O segundo termo envolve questões ligadas à desigualdade econômica associada ao modelo neoliberal. Para Nancy Fraser, a emancipação deve lidar necessariamente com ambas as dimensões, até porque a opressão contra os pobres está muitas vezes relacionada àquela contra as mulheres e pessoas negras, por exemplo.

A Escola de Frankfurt, portanto, contribuiu com debates dos mais decisivos na formação do mundo contemporâneo. Por isso, conhecer os seus autores e autoras é fundamental para compreender e criticar nosso mundo.

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Como o Iluminismo impactou a sociedade moderna? http://dicasdevestibular.blogosfera.uol.com.br/2022/12/15/como-o-iluminismo-impactou-a-sociedade-moderna/ http://dicasdevestibular.blogosfera.uol.com.br/2022/12/15/como-o-iluminismo-impactou-a-sociedade-moderna/#respond Thu, 15 Dec 2022 21:09:06 +0000 http://dicasdevestibular.blogosfera.uol.com.br/?p=2905 *Por Gianpaolo Dorigo, professor do Anglo Vestibulares

Talvez fosse melhor começarmos a reflexão mudando a pergunta para “Como o Iluminismo criou a sociedade moderna?” Um ponto de partida para buscarmos uma resposta poderia ser o texto de Kant, de 1784, “O que é Iluminismo?” Nele o filósofo alemão anuncia o projeto das luzes: dar autonomia ao ser humano, livrando-o ao mesmo tempo do pensamento dogmático e dos poderes exercidos “pelo trono e pelo altar”, isto é, pelos poderes político e religioso. Isto significa reconhecer a razão como única guia para a ação dos seres humanos, tanto no que se refere ao entendimento do mundo quanto às escolhas políticas.

Do primeiro caso, resulta a preponderância do conhecimento científico como guia mais adequado para orientar a ação do ser humano, sobretudo no trato com a natureza. Mitos, crendices ou a simples tradição perdem importância diante de um saber rigoroso e metódico, submetido à constante checagem e revisão crítica. Do terraplanismo à interpretação literal de textos religiosos, do horóscopo ao poder político hereditário, nada escapa ao olhar feroz da razão que promete emancipar o ser humano, livrando-o do charlatanismo e da superstição, colocando-o no caminho do progresso.

Do segundo caso, a filosofia política iluminista desenvolveu todo um projeto que resulta na afirmação de uma cidadania universal e da concepção de um estado soberano que representa os cidadãos e cujo pode se exerce em seu benefício. São herança da tradição iluminista as práticas políticas liberais, que resultaram no resgate e ressignificação de conceitos antigos como Democracia ou República, reinstituídos sob nova forma, valorizando-se eleições, constituição escrita, liberdade de expressão e separação de poderes (como forma de evitar o autoritarismo). A própria crítica ao liberalismo, que historicamente se apresentou sob a forma do marxismo, segue o projeto iluminista de busca de emancipação e de uma solução fundada em princípios racionais.

Todavia, há um impacto negativo da tradição iluminista. A construção da autonomia por cada ser humano – e o individualismo daí decorrente – gera situação de abandono ou não-pertencimento. Como resultado, busca-se a constituição de novos laços de comunidade, o que facilita a ascensão de discursos populistas que prometem o retorno a um passado mais seguro ou protegido. O saber torna-se pragmático, visto como simples meio para atingir objetivos materiais, por exemplo, através da destruição da natureza para usufruto humano. O saber pragmático esvazia o pensamento crítico, o que resulta em perguntas que ouvimos com tanta frequência nos dias de hoje: para que serve a Filosofia? Para que serve a História?

Finalmente, o Iluminismo e sua promessa de emancipação acabaram por “desencantar” o mundo. Sem espaço para o mistério – diante do discurso ininterrupto de uma razão que tudo explica – novas perguntas deixam de ser feitas. O Iluminismo acaba se transformando em seu contrário, no mito: promete uma explicação abrangente e definitiva do universo, mas que nunca dá conta de entender novos acontecimentos. Nas palavras do filósofo alemão Theodor Adorno, em texto de 1948, surpreendentemente atual: “Abandonando a seus inimigos a reflexão sobre o elemento destrutivo do progresso, o pensamento cegamente pragmatizado perde seu caráter superador e, por isso, também sua relação com a verdade. A disposição enigmática das massas educadas tecnologicamente a deixar dominar-se pelo fascínio de um despotismo qualquer, sua afinidade autodestrutiva com a paranoia racista, todo esse absurdo incompreendido manifesta a fraqueza do poder de compreensão do pensamento teórico atual”

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Quais são os principais filósofos cobrados no ENEM? http://dicasdevestibular.blogosfera.uol.com.br/2022/07/08/quais-sao-os-principais-filosofos-cobrados-no-enem/ http://dicasdevestibular.blogosfera.uol.com.br/2022/07/08/quais-sao-os-principais-filosofos-cobrados-no-enem/#respond Fri, 08 Jul 2022 18:53:27 +0000 http://dicasdevestibular.blogosfera.uol.com.br/?p=2790 *Por Renata Esteves, professora do Anglo Vestibulares

A disciplina de filosofia está inserida na prova do ENEM na área de ciências humanas e suas tecnologias. As questões buscam avaliar o domínio sobre a operação de conceitos filosóficos clássicos desenvolvidos por pensadores de todos os períodos do pensamento ocidental. Deste modo, são inúmeros os filósofos que podem ser cobrados na prova, sendo que o edital não delimita nomes específicos.

No entanto, os estudantes devem concentrar seus estudos nos conceitos mais conhecidos, pois o que será avaliado é a habilidade desempenhada em relação à leitura e compreensão dos textos de filosofia. Assim, se o aluno dominar a operação dos conceitos básicos, naturalmente desenvolverá um maior domínio diante dos textos filosóficos de maneira geral.

As questões de filosofia do ENEM muitas vezes possuem um caráter conteudista, isto é, cobram o significado ou a denominação do conceito sem oferecer textos que auxiliam diretamente na sua resolução. Esse é mais um motivo para o aluno se dedicar ao estudo dos conceitos mais clássicos, pois, quando a prova aposta em questões sobre filósofos menos convencionais, costuma oferecer textos mais interpretativos.

A prova exige o conhecimento de toda a filosofia antiga grega, abordando desde o pensamento dos pré-socráticos até as escolas do helenismo (estoicismo, cinismo, epicurismo e ceticismo). Aborda também o pensamento medieval dos filósofos cristãos (Santo Agostinho e São Tomás de Aquino). Em relação aos pré-socráticos, o aluno deve conhecer as problematizações sobre a cosmologia e a ontologia. Sobre o pensamento socrático e platônico, deve dominar os conceitos de dialética, maiêutica, mundo sensível e inteligível. A partir daí deve compreender a distinção entre a teoria platônica e a aristotélica, dominando os conceitos aristotélicos de ato, potência, substância, essência e acidente.

A prova aborda também o tema da teoria do conhecimento e exige o domínio sobre teorias antigas de Platão e Aristóteles. Em relação às teorias modernas, cobra-se o conhecimento a respeito do paradigma moderno configurado pela revolução científica. O estudante precisa ter sobretudo, compreensão das teorias racionalista, empirista e criticista, devendo estudar o racionalismo de Platão e de Descartes, o empirismo de J. Locke e D. Hume e a conciliação do criticismo em I. Kant. Além disso, é importante ter algum domínio sobre o pensamento contemporâneo da fenomenologia de Merleau Ponty.

Outro tema frequente na prova se refere às teorias políticas e exige o conhecimento da sofocracia platônica e das teorias aristotélicas. Já em relação às teorias modernas, aborda a teoria de Maquiavel e os contratualistas (Hobbes, Locke e Rousseau) exigindo conhecimento sobre os diferentes regimes políticos e operando com conceitos de democracia, autoritarismo, liberalismo e totalitarismo. As teorias contemporâneas da Escola de Frankfurt são exigidas com frequência, abordando o tema da Indústria Cultural e da Razão Instrumental.

O tema da ética também é muito frequente e cobra questões sobre o pensamento antigo socrático/platônico, a eudaimonia aristotélica e as escolas do helenismo. Em relação às teorias da modernidade, a prova aborda sobretudo a oposição entre a ética kantiana e o utilitarismo de Bentham. Sobre as teorias contemporâneas, traz temas de bioética, ética no universo digital e a razão comunicativa de J. Habermas.

Por fim, a prova exige também o conhecimento sobre os filósofos contemporâneos e o paradigma da “pós-modernidade”, apresentando excertos de pensadores como Nietzsche, Sartre, Foucault, Deleuze e Derrida.

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Para que serve a filosofia? http://dicasdevestibular.blogosfera.uol.com.br/2021/08/16/para-que-serve-a-filosofia/ http://dicasdevestibular.blogosfera.uol.com.br/2021/08/16/para-que-serve-a-filosofia/#respond Mon, 16 Aug 2021 16:07:16 +0000 http://dicasdevestibular.blogosfera.uol.com.br/?p=2606 Por Felipe Leal, professor do Anglo Vestibulares

A ideia de retirar a obrigatoriedade da filosofia no ensino médio, que chegou a estar presente nas discussões sobre a última reforma do ensino médio, foi derrotada após significativa resistência da sociedade. Ainda bem. Afinal, a filosofia pode auxiliar de maneira decisiva em uma educação voltada para lidar com desafios dos nossos tempos, estando longe de representar um luxo que atrapalha o necessário ou uma doutrinação que impede o pensamento.

 

Alguns defendem que de nada adianta ensinar Platão e Descartes a estudantes que sequer dominam a compreensão de texto e operações matemáticas básicas. Argumento falacioso, pois pressupõe uma separação rígida entre competências e habilidades que, de fato, estão integradas. Senão vejamos. O Enem requisita a elaboração de uma dissertação argumentativa, com exigência de recurso a repertório cultural próprio. Ora, é na tradição filosófica que se encontrarão as dissertações mais exemplares da história, bem como os conceitos que permitem informar melhor muitas discussões. E que dizer da matemática, que, do teorema de Pitágoras ao plano cartesiano, poucas vezes esteve separada da filosofia? O ensino da lógica, por exemplo, pode ser tanto um pressuposto como um auxílio na compreensão e resolução de problemas matemáticos.

 

E essa correlação com outras matérias não é a única contribuição da filosofia. Ela também é fundamental para a formação do pensamento político autônomo – uma urgência de nossos tempos. Muito se fala, hoje, de novas formas de manipulação política, sobretudo por meio das novas tecnologias digitais. O entendimento básico sobre tendências políticas como o socialismo e o liberalismo contribui para que internautas não sejam capturados por discursos fáceis, que se valem da ignorância e de vieses cognitivos para apresentar generalizações toscas como visões filosóficas sérias. Ensinar filosofia não é doutrinar, e sim formar as bases que evitam a doutrinação, favorecendo a formação de indivíduos que saibam se posicionar e debater, dialogando com a tradição e, quem sabe, fazendo-a um dia avançar.

 

Algo análogo se dá quanto à ciência. A desinformação pressupõe ausência de critérios, de um senso crítico capaz de separar o que é científico do que não é. De Bacon e Galileu a Popper e Kuhn, os fundamentos da filosofia da ciência são vacinas contra a infodemia dos nossos tempos. Mais do que isso, é a filosofia que permite pensar para além do método, distinguindo um uso instrumental da razão (preocupado com os meios de dominação da natureza e do ser humano) de um uso crítico (preocupado com a emancipação humana), como se vê nas importantes discussões sobre bioética. Sem filosofia, as ciências podem ser moralmente cegas e, por isso, até perigosas.

 

Sendo assim, não devemos dizer que ainda é importante ensinar filosofia nas escolas, e sim que sobretudo hoje é fundamental fazê-lo, como talvez em poucos momentos da história recente. E as supostas preocupações com o “ensino do básico” e a “doutrinação” deveriam ter a coragem de explicitar o que maquiam tão bem em seus discursos: a preocupação quanto a um ensino crítico e plural, capaz de formar uma juventude que pensa por si mesma.

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Montesquieu e a crise da democracia no Brasil http://dicasdevestibular.blogosfera.uol.com.br/2020/10/26/montesquieu-e-a-crise-democratica-no-brasil/ http://dicasdevestibular.blogosfera.uol.com.br/2020/10/26/montesquieu-e-a-crise-democratica-no-brasil/#respond Mon, 26 Oct 2020 19:30:36 +0000 http://dicasdevestibular.blogosfera.uol.com.br/?p=2357 Por Felipe Leal, professor do Anglo Vestibulares

Todo homem que possui poder é levado a dele abusar; ele vai até onde encontra limites.” – Montesquieu, “O espírito das leis”

É muito provável que a expressão “divisão de poderes” nunca tenha estado tão em voga no Brasil, ao menos desde os debates acerca da redemocratização do país. No início do ano, houve manifestações contra o Congresso e o Supremo Tribunal Federal. Em maio, segundo reportagem da revista Piauí, em uma reunião interna, o presidente da República teria falado de intervir no STF, com envio de tropas, por conta de uma suposta intenção de apreensão do seu aparelho celular. Depois, teria mudado de ideia.

É importante considerar, diante de tantas tensões, que o presidente representa o Poder Executivo, enquanto o Congresso e o STF representam, respectivamente, o Legislativo e o Judiciário no mais alto nível do país. Muitos chamaram atenção para que o clima de conflito entre poderes ser uma ameaça à democracia brasileira. Mas qual a relação entre divisão de poderes e democracia? Por que temos três poderes, afinal? A ideia de separação de poderes tem como referência obrigatória o filósofo iluminista Charles-Louis de Secondat, conhecido como Barão de Montesquieu.

Em sua obra “O espírito das leis” (1748), Montesquieu defendeu que a separação de poderes era uma parte essencial da democracia. Tal regime se caracteriza pela soberania popular, ou, como se diz em nossa Constituição, pela ideia de que todo poder emana do povo. Normalmente associamos isso à escolha de representantes pelo voto, mas isso não é o bastante. Segundo Montesquieu, todo governante, mesmo eleito, pode ser tentado a se tornar um déspota, um tirano, abusando dos poderes que tem. Para evitar isso, é preciso construir instituições que limitem o poder, evitando os males do absolutismo. Como fazer isso? Ora, o que pode limitar o poder é o próprio poder. Assim, é preciso dividi-lo em diferentes funções: executiva (governar nos limites da lei), legislativa (criar leis) e judiciária (aplicar a lei com impessoalidade). Além disso, é preciso que cada poder limite o poder do outro, o que ficou conhecido como sistema de freios e contrapesos. Assim, conforme ocorre no Brasil hoje, por exemplo, o Executivo tem poder de vetar as leis do Legislativo; este atua como fiscal do Executivo; e ambos não estão acima das leis, possibilitando que seus agentes sejam julgados pelo Judiciário.

A influência do pensamento de Montesquieu nas democracias de hoje é enorme. A divisão de poderes é praticamente consensual, ao menos no papel. Nesse sentido, é espantoso que haja manifestações por medidas como fechamento do Congresso e intervenção militar. Contudo, isso pode ser entendido pelo conflito entre a teoria democrática e o senso comum no país. As pessoas normalmente não distinguem quem faz o quê no Estado. Assim, o presidente, para muitos, é o responsável por tudo que ocorre, tanto de bom, quanto de ruim, como se ainda houvesse uma espécie de imperador no Brasil contemporâneo. Se as pessoas se convencerem de que dois poderes são corruptos e um, virtuoso, muitas vezes serão favoráveis à concentração dos poderes neste último, ainda mais em um ambiente de tamanha desordem e crise. Além disso, existe uma tendência para confundir o julgamento que fazemos de uma pessoa com o que fazemos da instituição que ela representa. Isso, de fato, pode pôr em risco a democracia.

O problema pode ser endereçado por uma outra preocupação de Montesquieu: para que a democracia funcione, a educação é fundamental para introduzir no povo o amor à lei e ao país. Dessa maneira, todos podem distinguir entre criticar um ocupante do poder e a instituição democrática que ele representa, por exemplo. Parece essencial que essa necessidade de educação seja levada em conta pela classe política, por educadores, pelos meios de comunicação e pela sociedade civil em geral tendo em vista as próximas eleições no país. Para Montesquieu, só assim poderíamos garantir um sistema efetivamente democrático, em que diferentes ideologias e visões de mundo disputem o poder, mas sempre dentro das regras do jogo, evitando, para todas as orientações, as tentações despóticas que tanto marcaram a nossa história.


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Sim, vale a pena estudar Filosofia! http://dicasdevestibular.blogosfera.uol.com.br/2017/08/14/sim-vale-a-pena-estudar-filosofia/ http://dicasdevestibular.blogosfera.uol.com.br/2017/08/14/sim-vale-a-pena-estudar-filosofia/#respond Mon, 14 Aug 2017 17:32:34 +0000 http://dicasdevestibular.blogosfera.uol.com.br/?p=1296

Detalhe de “A Escola de Atenas”, de Rafael / Reprdoução

Em meio às recentes discussões sobre a reforma do Ensino Médio no Brasil, chegou-se a propor a retirada da Filosofia como disciplina obrigatória do nosso currículo escolar, junto com a Sociologia. Após reações da sociedade, o Legislativo reafirmou a exigência das matérias nas escolas.

Dessa forma, como em anos anteriores, o estudante que vai participar do Sisu e de exames vestibulares nas próximas edições deve, sim, dedicar-se ao estudo da Filosofia. Mas, considerando tantos conteúdos obrigatórios de todas as disciplinas, e diante de uma tradição de pensamento de mais de 2500 anos, o que o aluno deve priorizar?

A melhor forma de responder a isso é analisar o que vem sendo cobrado nos últimos anos. Os temas variam um pouco. Porém, ainda assim, é possível observar tendências e temáticas mais recorrentes. Devemos lembrar, antes de tudo, que as questões de Filosofia não costumam exigir apenas a memorização, tampouco apenas a capacidade de interpretação de textos. Geralmente, o estudante deve ser capaz de ler e compreender trechos de obras filosóficas e de comentadores, identificar seus conceitos mais relevantes, comparar obras e concepções, além de relacionar textos filosóficos a textos de outros campos, como poesias e letras de canções. Sendo assim, são questões de complexidade razoável, que exigem preparo e treinamento. Dito isso, um primeiro grupo de temas que merece destaque são aqueles relativos ao surgimento da Filosofia e aos primeiros filósofos.

“O Desprezo” (1963) / Reprodução

Grécia Antiga

É interessante estudar e compreender, por exemplo, o que diferencia a Filosofia e a Mitologia na Grécia Antiga, com ênfase para a importância da racionalidade das explicações filosóficas. Entre os primeiros filósofos, deve-se conhecer as linhas gerais dos chamados pensadores pré-socráticos. Aqui vale destacar duas questões: o problema do princípio (ou arché), iniciado pela ideia de Tales de que tudo se origina da água, e o problema do ser, evidenciado no debate entre Heráclito e Parmênides.

Montagem da gravura de René Descartes com o frontspício de “De Homine” / Reprodução

Teoria do Conhecimento

Outro assunto constantemente cobrado nas provas é a Teoria do Conhecimento, ramo da Filosofia que se pergunta, por exemplo, sobre o que somos capazes de saber e quais formas de conhecimento são mais válidas. Desse debate, destacam-se dois momentos: a Filosofia Antiga e a Moderna.

Quanto à primeira, é inescapável estudar a Teoria das Ideias de Platão, com ênfase sobre o Mito ou Alegoria da Caverna. Já na modernidade, é preciso compreender os fundamentos e os principais filósofos envolvidos no debate entre Racionalismo (Descartes) e Empirismo (Locke e Hume, principalmente). E, por fim, as provas também cobram um entendimento dos debates que questionaram esse pensamento moderno, realizados por pensadores como Nietzsche, Foucault e os autores da Escola de Frankfurt (como Adorno e Horkheimer).

Em linhas gerais, é preciso desenvolver uma visão crítica, ainda que panorâmica, sobre o surgimento da racionalidade ocidental, seus desenvolvimentos e as críticas feitas a ele.

Filosofia Política

A Filosofia Política também deve, naturalmente, fazer parte dos estudos, desde as ideias gerais de Platão e Aristóteles, até as concepções modernas. Destas últimas, destaca-se, em primeiro lugar, o surgimento do pensamento moderno sobre o político, com a obra de Maquiavel. A seguir, terá papel importante o debate sobre os fundamentos racionais da convivência social e da legitimidade do Estado, na obra dos chamados Contratualistas: Hobbes, Locke e Rousseau.

Detalhe do frontispício de “Leviatã”, de Thomas Hobbes / Reprodução

Ética

Por fim, mas não menos importante, tem sido constante a presença de questões sobre Ética. Da Antiguidade Grega, destaca-se a Filosofia de Aristóteles, com seus preceitos de justiça e virtude. Da modernidade em diante, é importante conhecer o debate entre filósofos que defendem uma ética de princípios ou deontológica (especialmente Kant) e aqueles que defendem uma ética relacionada às consequências das ações (especialmente os utilitaristas).

Esse conjunto de temas constitui o eixo central do que vem aparecendo nas questões do Enem e de vestibulares que cobram filosofia. É preciso estar atento, contudo, para o perfil particular de algumas provas. No caso da Universidade Estadual de São Paulo (Unesp), por exemplo, há questões sobre Filosofia da Ciência e correntes modernas do pensamento político, como liberalismo e socialismo. Já na Universidade Estadual de Londrina (UEL), os temas filosóficos são mais aprofundados e diversificados, incluindo conhecimentos do campo da lógica (especialmente aristotélica) e da estética, entre outros. A regra aqui sempre é priorizar os exames que são os principais objetivos de cada um, resolvendo exercícios de provas anteriores e observando os editais específicos.

São, de fato, muitos assuntos, ainda mais considerando a carga de estudos das demais disciplinas. Contudo é preciso notar que acertar questões de Filosofia pode ser um diferencial para quem opta por cursos mais concorridos. Mais do que isso, estudar Filosofia amplia os horizontes intelectuais e a capacidade de pensamento crítico, possibilita melhor compreensão de outras matérias, como Literatura e História, além de conferir repertório cultural para a Redação. Vale lembrar que, na sua última edição, a proposta de Redação para ingresso na Universidade de São Paulo (USP) tinha como base um texto de Kant, com o tema “O homem saiu de sua menoridade?”. Ou seja, mesmo exames que não cobram diretamente Filosofia, consideram fundamental  a familiaridade com as questões que marcaram e marcam a história do pensamento ocidental.

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Estudar filosofia é essencial para ir bem nos vestibulares. Veja o porquê http://dicasdevestibular.blogosfera.uol.com.br/2017/04/03/entenda-a-importancia-de-estudar-filosofia-para-os-vestibulares/ http://dicasdevestibular.blogosfera.uol.com.br/2017/04/03/entenda-a-importancia-de-estudar-filosofia-para-os-vestibulares/#respond Mon, 03 Apr 2017 18:58:38 +0000 http://dicasdevestibular.blogosfera.uol.com.br/?p=1022 *Por Gianpaolo Dorigo

No ENEM, a prova de Ciências Humanas e suas Tecnologias costuma dividir-se em três grandes blocos: História, Geografia e Filosofia/Sociologia, com um número semelhante de questões, em que pesem discretas variações de ano a ano. No caso da Filosofia, isso representa de 5 a 8 testes por prova, dentro do conjunto de 45 testes dessa prova. A principal habilidade necessária para responder corretamente os testes de Filosofia é o entendimento de texto.

Cerca de metade dos testes nas provas de 2009 a 2016 não exigiam nenhum conhecimento prévio de conteúdos filosóficos, mas somente a capacidade de leitura, entendimento e comparação de textos. Muitas vezes, a aparente “facilidade” das questões de entendimento é apenas ilusória, sendo conveniente algum tipo de familiaridade com essa modalidade específica de escrita que caracteriza o texto filosófico.

Quanto às questões efetivamente conteudistas, elas costuma abranger dois tópicos principais: Teoria do Conhecimento e Filosofia Política, quase sempre abordadas dentro do contexto da história do pensamento filosófico. Na Teoria do Conhecimento, os testes sobre o assunto giram em torno das principais correntes desenvolvidas na história da Filosofia, notadamente Platão e Aristóteles na Grécia Clássica e, principalmente, as correntes opostas do racionalismo e do empirismo a partir da época Moderna.

Dessa forma, tem sido comum a identificação de conceitos essenciais em pensadores como Descartes (racionalismo) e Hume (empirismo), além da comparação entre textos desses dois autores. Como exemplo, o teste extraído da prova de 2016:

Nunca nos tornaremos matemáticos, por exemplo, embora nossa memória possua todas as demonstrações feitas por outros, se nosso espírito não for capaz de resolver toda espécie de problemas; não nos tornaríamos filósofos, por ter lido todos os raciocínios de Platão e Aristóteles, sem poder formular um juízo sólido sobre o que nos é proposto. Assim, de fato, pareceríamos ter aprendido, não ciências, mas histórias. (Descartes, R. Regras para a orientação do espírito)

Em sua busca pelo saber verdadeiro, o autor considera o conhecimento, de modo crítico, como resultado da

a) Investigação de natureza empírica
b) Retomada da tradição intelectual
c) Imposição de valores ortodoxos
D) Autonomia do sujeito pensante
e) Liberdade do agente moral

Em Filosofia Política, os testes buscam identificar as principais correntes do pensamento político ocidental, sobretudo a partir da tradição liberal-iluminista e lançando mão de textos clássicos para determinar o comando da questão. Nesse contexto, destacam-se as obras de contratualistas como Thomas Hobbes, John Locke e Jean-Jacques Rousseau. Segue um exemplo extraído da prova de 2015:

A natureza fez os homens tão iguais, quanto às faculdades do corpo e do espírito, que, embora por vezes se encontre um homem manifestamente mais forte de corpo, ou de espírito mais vivo do que outro, mesmo assim, quando se considera tudo isto em conjunto, a diferença entre um e outro homem não é suficientemente considerável para que um deles possa com base nela reclamar algum benefício a que outro não possa igualmente aspirar. (HOBBES, T. Leviatã. São Paulo Martins Fontes, 2003)

Para Hobbes, antes da constituição da sociedade civil, quando dois homens desejavam o mesmo objeto, eles

A) entravam em conflito.
b) recorriam aos clérigos.
c) consultavam os anciãos.
d) apelavam aos governantes.
e) exerciam a solidariedade. 

Nos últimos anos, começaram a se tornar frequentes no ENEM algumas questões sobre Ética. Trata-se quase sempre de testes bastante abrangentes, que pedem não apenas da leitura e entendimento de textos clássico, como também lançam mão de questões contemporâneas, como, por exemplo, aquelas decorrentes do impacto do desenvolvimento científico e da aplicação de novas tecnologias. Um exemplo, da prova de 2014:

Panayiotis Zavos “quebrou” o último tabu da clonagem humana — transferiu embriões para o útero de mulheres, que os gerariam. Esse procedimento é crime em inúmeros países. Aparentemente, o médico possuía um laboratório secreto, no qual fazia seus experimentos. “Não tenho nenhuma dúvida de que uma criança clonada irá aparecer em breve. Posso não ser eu o médico que irá criá-la, mas vai acontecer”, declarou Zavos. “Se nos esforçarmos, podemos ter um bebê clonado daqui a um ano, ou dois, mas não sei se é o caso. Não sofremos pressão para entregar um bebê clonado ao mundo. Sofremos pressão para entregar um bebê clonado saudável ao mundo.” (CONNOR, S. Disponível em: www.independent.co.uk. Acesso em: 14 ago. 2012)

A clonagem humana é um importante assunto de reflexão no campo da bioética que, entre outras questões, dedica-se a:

A) refletir sobre as relações entre o conhecimento da vida e os valores éticos do homem.
b) legitimar o predomínio da espécie humana sobre as demais espécies animais no planeta.
c) relativizar, no caso da clonagem humana, o uso dos valores de certo e errado, de bem e mal.
d) legalizar, pelo uso das técnicas de clonagem, os processos de reprodução humana e animal.
e) fundamentar técnica e economicamente as pesquisas sobre células-tronco para uso em seres humanos.

Bom estudo!

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O que estudar em Filosofia para o Enem? http://dicasdevestibular.blogosfera.uol.com.br/2016/05/25/o-que-estudar-em-filosofia-para-o-enem/ http://dicasdevestibular.blogosfera.uol.com.br/2016/05/25/o-que-estudar-em-filosofia-para-o-enem/#respond Wed, 25 May 2016 19:45:00 +0000 http://dicasdevestibular.blogosfera.uol.com.br/?p=284 *Por Gianpaolo Dorigo

Raphael_School_of_Athens

Em 2009 ocorreu uma mudança no perfil da prova do ENEM, um verdadeira “guinada conteudista”: ao invés de somente medir Habilidades e Competências, as provas passaram a exigir o conhecimento de uma série de conteúdos, associados às disciplinas do Ensino Médio. Desde então, Filosofia começou a ocupar um espaço cada vez maior na prova, conforme observado no gráfico abaixo:

GRAFICO ENEM

Muitas vezes a distinção entre uma questão de Filosofia e uma de História ou Sociologia é muito sutil, dada a proximidade dos assuntos tratados por esses campos de saber. Isso significa que os números da tabela são aproximados, embora indiquem uma tendência evidente de ampliação do espaço dedicado à Filosofia.

Dentro desse universo de questões, observa-se uma diversidade bastante grande de assuntos abordados, mas mesmo assim algumas tendências são perceptíveis no que se refere aos conteúdos: trata-se de uma preferência pelo questionamento de autores tradicionais na história do pensamento filosófico e assuntos considerados básicos.

No que se refere aos assuntos, do total das questões propostas, 10 tratam de Teoria do Conhecimento e 7 de Filosofia Política, o que é suficiente para identificar a ênfase da prova  nesses assuntos. Em Teoria do Conhecimento, os assuntos básicos são tratados, com ênfase nas ideias de Platão e no racionalismo cartesiano, bem como o contraste dessa corrente de pensamento com o empirismo. Aliás, as ideias do filósofo francês René Descartes são uma preferência da banca examinadora, com textos seus tendo sido utilizados nada menos que 4 vezes nas provas examinadas. Em segundo plano, aparece a caracterização do conhecimento científico e o surgimento das ciências como campo especializado do saber.

Em Filosofia Política, há uma forte tendência em questionar o conhecimento sobre os pensadores contratualistas, como Hobbes, Locke e Montesquieu. Levando em consideração outros critérios (como a importância do autor nos departamentos de filosofia e as aparentes preferências da banca), também merecem destaque as ideias dos filósofos Jürgen Habermas e Michel Foucault, aliás já devidamente contemplados em edições do ENEM a partir de 2009.

Finalmente, um dos aspectos que mais chama atenção na parte de Filosofia da prova do ENEM refere-se não ao conteúdo, mas à forma das questões. No conjunto examinado, nada menos que 18 questões limitam-se essencialmente ao entendimento de texto. Em outras palavras, não exigem conhecimento prévio de Filosofia ou história do pensamento filosófico, mas apenas a capacidade de ler e entender um texto apresentado. Nesse número incluem-se 4 questões que pediam a comparação entre textos de dois autores diferentes.

A partir dos dados examinados, pode-se compor um programa de estudos básico para a prova de Filosofia do ENEM, incluindo o conhecimento dos seguintes conteúdos:

– fundamentos da Filosofia em Platão;

– principais correntes da Filosofia Moderna: racionalismo cartesiano e empirismo;

– características do discurso científico;

– o contratualismo na Filosofia Política;

– conceitos essenciais de Habermas e Foucault.

Além disso acrescenta-se a necessidade de alguma familiaridade com o texto filosófico, bem como a necessária capacidade de entendimento e comparação entre ideias presentes em textos diferentes.

Gianpaolo_Dorigo

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