Dicas de estudo – Dicas de Vestibular http://dicasdevestibular.blogosfera.uol.com.br Neste espaço, o vestibulando vai encontrar orientações, conteúdos que mais caem nas provas e dicas para se sair bem nos processos seletivos e no Enem (Exame Nacional do Ensino Médio). O conteúdo também pode ser útil aos interessados em provas de concursos. Fri, 31 Mar 2023 16:58:21 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Seis documentários para entender melhor os conflitos ao redor do mundo http://dicasdevestibular.blogosfera.uol.com.br/2023/03/09/seis-documentarios-para-entender-melhor-os-conflitos-ao-redor-do-mundo/ http://dicasdevestibular.blogosfera.uol.com.br/2023/03/09/seis-documentarios-para-entender-melhor-os-conflitos-ao-redor-do-mundo/#respond Thu, 09 Mar 2023 18:12:46 +0000 http://dicasdevestibular.blogosfera.uol.com.br/?p=2928 *Por Gianpaolo Dorigo, professor do Anglo Vestibulares

O conflito na Ucrânia é talvez o mais grave ocorrido desde o final da Guerra Fria, por se manifestar como uma guerra convencional em larga escala entre estados-nação soberanos e participantes da ordem política internacional. Os antecedentes do conflito, bem como sua continuação após um ano – e sem previsão realista de paz num futuro próximo – têm dado origem a uma série de documentários facilmente acessíveis através das mais populares plataformas de streaming.

É o caso de “Winter on Fire” (2014, Netflix), que trata da crise política de 2013/2014 no país, quando uma grande mobilização popular pró-União Europeia acabou levando a renúncia do presidente Viktor Yanukovich, pró-russo. As chamadas manifestações da praça Maidan marcaram a guinada do governo ucraniano de Leste para Oeste e contaram com a participação de grupos de extrema direita.  Como represália, o governo Putin desencadeou a anexação da Criméia e apoiou o separatismo na região de Donbass, movimentos que culminaram com a invasão de 2022.

Já o documentário “Abrigo: inocentes sob ataque” (2022, GloboPlay) mostra o impacto da guerra no cotidiano, da população da Ucrânia. Uma guerra convencional envolve a mobilização de grandes exércitos regulares, e mobiliza um poder destrutivo muito grande, através de seus tanques, mísseis, aviões e navios de guerra. Os efeitos são devastadores na população, ainda mais que os combates muitas vezes se desenvolvem em áreas urbanas, e resultam em massacres como o da cidade de Bucha, mostrado no documentário.

O prosseguimento da guerra civil na Síria, iniciada em 2011 no contexto da Primavera Árabe, deu origem a inúmeros documentários, que explicam e testemunham o conflito.  Um exemplo significativo, realizado pelo fotógrafo e produtor independente brasileiro Gabriel Chaim é “Síria em fuga” (2015, GloboPlay) focado na população civil e com uma abordagem muito semelhante ao de “Abrigo”, também produzido por Chaim. O documentário foi um dos finalistas do prêmio Emmy de 2016.

The Cave” (2020, National Geographic) mostra o funcionamento de um hospital subterrâneo na cidade de Ghoutta, no leste da Síria. O documentário foi dirigido pelo cineasta sírio Feras Fayyad, e foi indicado ao prêmio Oscar de 2020. Assim como em “Síria em fuga”, as preocupações didáticas em explicar o conflito ficam em segundo plano, mas a força das imagens ajuda a ter uma visão mais realista do conflito.

A questão Palestina tem dado origem a inúmeros filmes e documentários nas últimas décadas, e uma das melhores produções recentes é “Disturbing the Peace” (2020, Amazon Prime). O documentário mostra os dois lados do conflito, contando a história de um grupo pacifista formado por israelenses e palestinos, quase todos ex-combatentes na guerra permanente existente na região. Já “Nascido em Gaza” (2014, Netflix) examina a questão de Gaza, pequeno enclave costeiro entre Israel e Egito onde se acumulam aproximadamente 600 mil habitantes.  No documentário, um grupo de crianças convive com a violência dos ataques israelenses contra bases ou arsenais de terroristas e supostos terroristas na região.

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Os sociólogos brasileiros mais conhecidos e suas teorias http://dicasdevestibular.blogosfera.uol.com.br/2022/11/03/os-sociologos-brasileiros-mais-conhecidos-e-suas-teorias/ http://dicasdevestibular.blogosfera.uol.com.br/2022/11/03/os-sociologos-brasileiros-mais-conhecidos-e-suas-teorias/#respond Thu, 03 Nov 2022 21:31:15 +0000 http://dicasdevestibular.blogosfera.uol.com.br/?p=2880 *Por Rene Araújo, professor do Anglo Vestibulares

O Brasil apresenta inúmeras contradições e complexidades, decorrentes da sua formação social, histórica, cultural, política e econômica. Vivemos em um país que necessita de análises, pesquisas, estudos e reflexões constantes, devido a sua formação social e toda a dinâmica e organização que o constitui. Diante desse cenário, muitos cientistas sociais dedicaram suas vidas à tentativa de compreender, decifrar e traduzir esse país. E conhecer alguns deles não só é importante, como também é necessário para que, a partir de suas obras, possamos buscar entender melhor a nós mesmo.

Um dos intelectuais mais conhecidos é o sociólogo e antropólogo Gilberto Freyre, autor de uma vasta obra sobre a formação da sociedade brasileira. Seu livro mais famoso é o clássico Casa-Grande e Senzala, onde o autor condena as ideias puristas de raça, que atribuíam o atraso brasileiro à miscigenação. Freyre, ao contrário, vai destacar a miscigenação como sendo a nossa principal característica, responsável pela nossa riqueza cultural, valorizando a contribuição indígena e africana para a nossa formação cultural. Porém, esse livro exige uma leitura crítica, pois contribuiu para a falsa ideia de que haveria uma democracia racial no Brasil, ideia responsável por alimentar discursos de que não existiria racismo no Brasil.

Outro nome importante é o de Sérgio Buarque de Holanda, apesar de ter formação em história, os escritos do autor ajudaram no desenvolvimento de diversos estudos sociológicos sobre a sociedade brasileira. Sua obra mais conhecida é Raízes do Brasil, livro em que o autor trata da formação social brasileira e apresenta a ideia do “homem cordial” e de como a pessoalidade prevalece sobre a impessoalidade nas relações sociais, o que acabaria por dificultar a modernização democrática do Estado brasileiro e a manutenção de práticas patrimonialistas.

E pensar a sociologia no Brasil é pensar a obra de Florestan Fernandes, autor de inúmeros livros que buscaram refletir criticamente a realidade brasileira e o papel da sociologia diante desse cenário. Destaque para os estudos acerca da desigualdade social e racial no país, cuja obra do sociólogo teve contribuição central sobre esses assuntos e influência sobre vários outros autores. Discípulos de Florestan, podemos incluir aqui também os sociólogos Octávio Ianni e Fernando Henrique Cardoso, cujas obras abordam o desenvolvimento econômico e social, a teoria da dependência, o preconceito racial no brasil, e política e relações internacionais.

Outra figura muito conhecida é o antropólogo e sociólogo Darcy Ribeiro, responsável por inúmeras etnografias dos povos indígenas do Brasil, Ribeiro também teve grande atuação no projeto do Parque Nacional do Xingu e na construção da UNB. Autor de uma vasta obra, vale destacar o livro O povo brasileiro, onde o autor apresenta a sua interpretação sobre a nossa formação e composição étnica e cultural.

Autor de grande relevância da sociologia brasileira nos dias atuais, Ricardo Antunes é um dos principais estudiosos do mundo do trabalho contemporâneo e sua organização no Brasil. Partindo da teoria marxista, o sociólogo tem apresentado as contradições e precarizações que caracterizam o mercado de trabalho da classe trabalhadora no país.

Por fim, nos últimos anos, as análises sociológicas de Jessé Souza têm ganhado muito espaço no debate acadêmico e público. Obras como A elite do atraso e Brasil dos humilhados, apresentam uma leitura crítica sobre as ideias que fundaram e legitimaram as interpretações hegemônicas sobre o Brasil, a serviço das elites e em detrimento da exploração da “ralé”, como diz o autor.

Enfim, em um país como o nosso, não faltam tentativas de explicar a nossa realidade e os problemas que a constituem, assim como a nossa diversidade étnica-cultural e todos os componentes que marcam nossa identidade nacional. Portanto, a sociologia brasileira se desenvolveu ao longo das últimas décadas através das obras desses e de tantos outros pensadores fundamentais para se compreender nossa sociedade.

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Tabela Periódica: O que você mais precisa saber para o vestibular? http://dicasdevestibular.blogosfera.uol.com.br/2022/10/19/tabela-periodica-o-que-voce-mais-precisa-saber-para-o-vestibular/ http://dicasdevestibular.blogosfera.uol.com.br/2022/10/19/tabela-periodica-o-que-voce-mais-precisa-saber-para-o-vestibular/#respond Wed, 19 Oct 2022 18:53:43 +0000 http://dicasdevestibular.blogosfera.uol.com.br/?p=2869 *Por Philippe Spitaleri Kaufmann, professor do Anglo Vestibulares

Muitos alunos, que prestam os mais diversos vestibulares, acreditam que é necessário decorar o nome de todos os elementos químicos e as demais informações presentes na Tabela Periódica dos Elementos Químicos. Mas será que isso é mesmo verdade?

Embora seja realmente importante conhecer o nome e o símbolo de alguns elementos químicos mais comuns, como o hidrogênio, o sódio, o cálcio e o potássio, não é decorar um monte de dados que determina se o estudante vai ou não acertar uma questão sobre a Tabela Periódica.

Em relação a esse assunto, a principal preocupação dos estudantes deve ser compreender como os elementos químicos estão organizados na tabela e quais são esses critérios de organização, para então, a partir desse ponto, entender a variação de algumas das denominadas “Propriedades Periódicas”.

Na proposição atual, os elementos estão organizados, da esquerda para a direita, em ordem crescente de número atômico. Vale lembrar que o número atômico de um elemento corresponde ao número de prótons que este possui em seu núcleo, sendo utilizado para a identificação dos elementos químicos. Átomos de diferentes elementos necessariamente apresentam números atômicos distintos.

Um outro ponto importante é saber que a tabela está “dividida” em linhas verticais e horizontais.

As linhas verticais são denominadas grupos ou famílias e tendem a agrupar elementos que possuem propriedades químicas semelhantes. No caso dos elementos representativos, essa semelhança está comumente associada ao fato de apresentarem o mesmo número de elétrons em sua camada de valência.

As linhas horizontais, por sua vez, são chamadas de séries ou períodos e estão relacionadas ao número de camadas eletrônicas que cada átomo apresenta em sua distribuição eletrônica. Átomos que estão em um mesmo período na Tabela apresentam, necessariamente, o mesmo número de camadas eletrônicas. Assim, todos os átomos do primeiro período possuem somente uma camada eletrônica, do segundo período, duas, do terceiro período, três, e assim sucessivamente, até um total de sete. Na Tabela temos 18 grupos ou famílias e 7 períodos.

Além dessas informações iniciais, sobre a organização dos elementos, é importante saber também que existem três diferentes tipos de elementos representados na tabela, os metais, ametais e gases nobres.

Os metais, como sabemos, são geralmente sólidos à temperatura ambiente, apresentam altas temperaturas de fusão e ebulição, são bons condutores de calor e eletricidade e possuem um brilho característico, além de serem dúcteis e maleáveis, ou seja, podem ser moldados em fios ou chapas/ lâminas metálicas.

Os ametais, por sua vez, tendem a apresentar características opostas aos metais. Formam substâncias químicas em diversos estados físicos á temperatura ambiente, são, em geral, isolantes térmicos e elétricos e seus compostos não tendem a possuir brilho.

Já os gases nobres recebem essa denominação pois tendem a ser encontrados isolados, na forma monoatômica, não se ligando ou formando compostos com outros átomos, embora existam sim compostos já sintetizados envolvendo gases nobres, dentre estes, pode-se citar com destaque, os derivados de xenônio.

Passando para uma análise mais aprofundada da Tabela, pode-se citar a importância de os estudantes conhecerem algumas das principais Propriedades Periódicas, sendo estas: Raio Atômico, Energia de Ionização e Eletronegatividade.

O raio atômico está relacionado diretamente ao tamanho do átomo. Em uma análise mais superficial, voltada para as questões que aparecem nos principais vestibulares, pode-se utilizar dois critérios para comparar o tamanho dos átomos.

O primeiro critério envolve o número de camadas eletrônicas que um átomo apresenta. De um modo geral, pode-se considerar que quanto maior o número de camadas eletrônicas, maior será o raio e, consequentemente, o tamanho do átomo.

O segundo critério envolve uma comparação entre átomos que apresentam um empate no número de camadas eletrônicas. Nesse caso, deve-se olhar para os respectivos números atômicos, quanto maior for o número de prótons no núcleo do átomo, maior a atração nuclear e, portanto, menor será o raio. Vale destacar que essa comparação direta entre os números atômicos só deve ser feita caso haja um empate no número de camadas eletrônicas entre os átomos que estão sendo comparados.

A energia de ionização corresponde à energia que deve ser fornecida para um átomo neutro, isolado, no estado gasoso, para que um elétron seja ejetado de sua eletrosfera. Essa propriedade está diretamente relacionada ao raio atômico, de modo que átomos menores tendem a segurar mais fortemente os seus elétrons e, portanto, tendem a apresentar maior energia de ionização.

Já a eletronegatividade, uma das propriedades periódicas mais utilizadas, corresponde à tendência que um átomo apresenta de atrair para si os elétrons de uma ligação química. O átomo que é mais eletronegativo tende a atrair os elétrons para si, fazendo com que ele acabe por apresentar uma densidade de carga ou uma carga real negativa. Essa propriedade é muito utilizada na análise de polaridade de ligações e de moléculas.

Assim, embora as informações presentes na Tabela Periódica não devam ou necessitem ser decoradas, para um bom desempenho nas provas, é necessário que os estudantes a saibam analisar. Para isso, é imprescindível que estudem, durante o ano todo e, principalmente durante o período de revisão, com a Tabela ao seu lado, consultando-a sempre que necessário, para que seja possível criar uma familiaridade com as suas informações. Somente assim será possível utilizá-la de maneira proficiente na resolução das questões dos mais diversos vestibulares.

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Como fazer uma boa introdução na redação? http://dicasdevestibular.blogosfera.uol.com.br/2022/10/14/como-fazer-uma-boa-introducao-na-redacao/ http://dicasdevestibular.blogosfera.uol.com.br/2022/10/14/como-fazer-uma-boa-introducao-na-redacao/#respond Fri, 14 Oct 2022 21:42:21 +0000 http://dicasdevestibular.blogosfera.uol.com.br/?p=2865 *Por Daniela Toffoli, professora do Anglo Vestibulares

O primeiro parágrafo (de todo e qualquer texto) é a “porta de entrada” para uma história, discussão, exposição de fatos ou, no nosso caso, para uma análise sobre algum importante tema contemporâneo. Em poucas palavras: para nós, é o início da dissertação. E é justamente por isso que é imprescindível já começar pensando na função que essa introdução deve exercer, ou seja, trata-se de uma espécie de “ponte” entre aquilo que foi proposto para discussão e a visão que será defendida pelo debatedor; espera-se, portanto, que posicionamento e tema estejam claros e acessíveis ao leitor. Nesse sentido, é preciso que o primeiro parágrafo seja funcional, mas não deixe de ser atrativo para que seu interlocutor siga adiante com a leitura.

Acredito que, até aqui, já tenha ficado clara a relevância que a produção de uma boa introdução possui, e para garantir que ela tenha qualidade, em primeiro lugar, é essencial a internalização de sua estrutura básica: contextualização, apresentação do tema e apresentação da tese. Com calma, vamos analisar cada uma dessas partes:

  1. Contextualização: é o momento em que, em geral, apresenta-se o assunto, mas ainda não o tema. Isto é, expõe-se algum tipo de informação que se relacione com a questão proposta para debate a fim de que, mais à frente, o tema seja, de fato, anunciado de maneira mais explícita. É um bom momento para fazer uso de algum repertório sociocultural, como filmes, séries, exemplos atuais, fatos históricos, definições de termos, citações etc.;
  2. Apresentação do tema: deve ser feita de maneira simples e direta, ou seja, com o uso das palavras-chave (os termos mais importantes da frase-temática). Se o tema aparecer em forma de questionamento, responda-o – afinal, “quem pergunta, quer resposta”, certo?;
  3. Apresentação da tese: aqui, é necessário que você se posicione da maneira mais explícita possível, já deixe evidente qual é a visão a ser defendida e quais são os argumentos a serem utilizados para sustentar esse seu posicionamento.

Vale ressaltar, ainda, que é bastante valorizado o texto que, além de já começar explicitando as ideias de modo bem estruturado e organizado, também faz uso de uma linguagem clara e objetiva (sem desobedecer à norma-padrão da língua portuguesa, obviamente). Por isso, preste atenção ao encadeamento de suas ideias – se elas já soarem confusas desde o início, dificilmente o leitor seguirá adiante –, garantindo a fluidez nas explicações iniciais, evite termos que você não conhece ou que não tem certeza sobre o significado e, por último, já comece a atribuir criticidade e autoria diante dos fatos que estão sendo apresentados.

Pronto, sua introdução está completa!

De maneira geral e sintética, portanto, preze pela organização e clareza de ideias e informações. Com certeza, você terá uma introdução adequada ao gênero, atrativa e eficiente para expor o assunto a ser discutido.

Por fim, não deixe de sempre fazer uma leitura atenta para garantir que não deixou passar qualquer tipo de equívoco.

Boas provas e arrase na sua introdução!

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A Matemática do cotidiano nos vestibulares http://dicasdevestibular.blogosfera.uol.com.br/2022/08/19/a-matematica-do-cotidiano-nos-vestibulares/ http://dicasdevestibular.blogosfera.uol.com.br/2022/08/19/a-matematica-do-cotidiano-nos-vestibulares/#respond Fri, 19 Aug 2022 15:47:10 +0000 http://dicasdevestibular.blogosfera.uol.com.br/?p=2826 *Por Victor Pompêo, professor do Anglo Vestibulares

Os exames vestibulares no Brasil já existem há mais de século. Eles foram instituídos em 1911, pela Lei Rivadávia Corrêa (ela leva o nome do Ministro do Interior da época), que estabelecia a obrigatoriedade de exames de admissão para o ingresso de alunos em instituições de ensino superior.

Durante essa longa existência, as provas de vestibular passaram por várias alterações, tanto em relação ao formato (inicialmente havia uma fase com exame oral!), quanto ao conteúdo. Já há duas décadas, acompanhamos uma tendência de mudança de muitas dessas provas, que foram de uma abordagem extremamente técnica e direta (“resolva”, “calcule”, “simplifique”, …) para questões interpretativas e contextualizadas. Hoje, a maioria dos principais vestibulares do país utilizam esse tipo de questões, que exigem do estudante um conjunto único de habilidades para serem resolvidas.

Na Matemática, a contextualização se dá principalmente de duas maneiras. Na primeira, os exercícios procuram relacionar fenômenos ou acontecimentos da realidade com representações matemáticas. Isso pode envolver organizar dados de uma observação ou pesquisa em tabelas, gráficos ou matrizes; relacionar o movimento de um corpo no espaço tridimensional a uma representação bidimensional; interpretar escalas de mapas ou maquetes; identificar as formas geométricas que melhor descrevem  objetos da realidade; ou mesmo estabelecer a lei de formação de funções que modelam certos eventos.

Na segunda, os problemas partem dessas representações e exigem do estudante que ele as relacione com conceitos matemáticos, ou que utilize ferramentas matemáticas para analisar os fenômenos que elas descrevem. Exemplos desse tipo de abordagem incluem calcular o volume de uma bola de futebol (supondo que ela tem formato perfeitamente esférico); determinar o tempo necessário para encher uma piscina, a partir de informações sobre o seu formato e a vazão da mangueira utilizada; encontrar a maneira de utilizar uma certa quantidade de arame para cercar uma região retangular, de maneira a maximizar sua área; descobrir o volume de suco concentrado necessário para preparar um refresco com concentração específica; calcular a probabilidade de ser premiado em diferentes tipos de loteria e, com base nisso, decidir qual aposta é a melhor (ou menos pior); escolher a melhor forma de comprar um produto (à vista ou a prazo) com base na taxa de juros do parcelamento e das opções de investimento disponíveis.

Como a Matemática é utilizada para descrever quase tudo o que acontece ao nosso redor, são inúmeros os exemplos de aplicações que podem ser usadas para contextualizar uma questão.  Dessa maneira, não é proveitoso que o estudante tente se preparar estudando quais delas podem ser abordadas (é impossível sequer listá-las todas!). É sempre útil lembrar que, em última instância, a prova é de Matemática; a contextualização é tão somente um pano de fundo para a questão, uma maneira de a banca examinadora verificar se você consegue interpretar uma situação prática, extrair dali os dados relevantes e então desenvolver corretamente a análise matemática adequada para a situação.  Assim, é mais proveitoso que o vestibulando foque em treinar:

  • como extrair as informações importantes do enunciado: grife os valores numéricos fornecidos e palavras que remetam a conceitos matemáticos (descrição de formas, especificação do valor inicial de uma função ou de sua taxa de variação; palavras que remetam a operações matemáticas como “para cada”, entre outros);
  • como identificar qual área da Matemática é melhor aplicada para lidar com aquela situação e, dentro dessa área, quais os conceitos matemáticos relacionados com o que está sendo pedido: se é um exercício sobre formas geométricas bidimensionais, recairemos em Geometria Plana, se o assunto é encontrar o lucro máximo a partir de uma função quadrática, utilizaremos o vértice de uma parábola, ou se é necessário encontrar o número de maneiras em que uma situação pode se desdobrar, provavelmente utilizaremos o princípio multiplicativo de Análise Combinatória;
  • e, por fim, como desenvolver a análise e os cálculos a partir da modelagem dada/encontrada.

Para garantir uma boa preparação, pode ser uma ideia dividi-la em etapas: primeiro, faça exercícios mais técnicos e diretos para garantir que você tenha absorvido corretamente os conceitos importantes para o aprendizado daquele conteúdo e que você seja capaz de efetuar as análises típicas relacionadas àquele assunto; em seguida, treine exercícios contextualizados que ajudem a desenvolver as habilidades interpretativas que permitam que você transforme a descrição do problema em uma representação matemática adequada para a resolução do problema.

Por fim, o conhecimento acerca do estilo de prova dos principais vestibulares em que você está interessado também vai deixá-lo mais bem preparado para encarar esses exames e ter um bom desempenho ao final do processo. Bons estudos e boa prova!

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Como se organizar para deixar o estudo do segundo semestre mais produtivo? http://dicasdevestibular.blogosfera.uol.com.br/2022/08/03/como-se-organizar-para-deixar-o-estudo-do-segundo-semestre-mais-produtivo/ http://dicasdevestibular.blogosfera.uol.com.br/2022/08/03/como-se-organizar-para-deixar-o-estudo-do-segundo-semestre-mais-produtivo/#respond Wed, 03 Aug 2022 15:41:50 +0000 http://dicasdevestibular.blogosfera.uol.com.br/?p=2819 *Por Bárbara Souza, psicóloga do Curso Anglo

Muitos vestibulandos se perguntam como podem otimizar os estudos até o início dos vestibulares em novembro. A organização e o planejamento do tempo, junto à clareza de quais conteúdos são mais necessários para si, são ferramentas preciosas para aproveitar esse período que parece curto, mas em que é possível fazer muita coisa!

Uma ação importante é identificar quais são os conteúdos ainda não dominados ou desconhecidos e que costumam cair nos vestibulares pretendidos, pois isso ajuda a otimizar o tempo e a energia investidos nos estudos. Essa seleção pode ocorrer a partir de vestibulares de anos anteriores recentes, a partir de simulados específicos dessas provas ou de cursos preparatórios para os vestibulares ou, até mesmo, analisando o conteúdo programático disponibilizado no edital pela banca responsável pelo vestibular.

Considerando o segundo semestre, o estudante tem no mínimo dezesseis semanas para estudar os conteúdos que identificou como mais necessários para si e que costumam cair nas provas a que concorrerá. Planejar os conteúdos a serem estudados a cada semana, distribuindo nos dias em conformidade com o conhecimento e habilidade que tem no conteúdo (quanto mais dificuldade, mais tempo será necessário para compreender o tema abordado) é uma estratégia que favorece o aproveitamento do tempo. É importante que o vestibulando busque subdividir temas mais extensos em blocos e os distribua ao longo dos dias, intercalando conteúdos de diferentes áreas do conhecimento, evitando manter uma sequência longa e ininterrupta de um mesmo padrão de raciocínio (por exemplo, estudar exatas por muito tempo seguido) porque isso pode provocar mais cansaço.

Cronograma de estudos montado, agora é a vez de investir no como estudar e, para quem prestará vestibulares, é fundamental treinar os conteúdos fazendo exercícios. O estudo da teoria é muito importante, mas não é suficiente, pois nos vestibulares, os conteúdos caem em formato de exercícios, que muitas vezes são testes. Outra maneira de testar os conteúdos é fazendo as provas de anos anteriores recentes, pois assim, o vestibulando conhecerá melhor os tipos de questões recorrentes, bem como poderá desenvolver uma estratégia de acordo com o modelo do vestibular que fará, ganhando agilidade na resolução e evitando surpresas. Aliás, treinar provas também é um recurso importante para avaliar e revisar aqueles conteúdos que já foram estudados, identificando os que ainda estão frágeis e precisam de reforço.

Por fim, mas não menos importante, o vestibulando precisa ter clareza de que manter o equilíbrio físico, cognitivo e emocional é fundamental! Quando falamos do equilíbrio físico, estamos nos referindo aos cuidados com a saúde do corpo e o respeito aos limites, por exemplo, manter preservadas atividades físicas, de lazer e o período de sono necessário para o descanso. Esses aspectos estão intimamente ligados ao equilíbrio cognitivo e emocional. Muitos vestibulandos erroneamente acham que devem dormir menos ou não praticar atividades físicas para dedicar mais tempo aos estudos e “dar um gás na reta final para os vestibulares”, entretanto, o mais comum é provocar desadaptação para o corpo, podendo prejudicar a atenção e favorecer a ansiedade, já potencialmente mais alta que o normal devido à aproximação das provas. Portanto, cuidar da saúde física e mental, é muito importante para chegar bem nas provas!

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2019: O Ano Internacional da Tabela Periódica http://dicasdevestibular.blogosfera.uol.com.br/2018/10/08/2019-o-ano-internacional-da-tabela-periodica/ http://dicasdevestibular.blogosfera.uol.com.br/2018/10/08/2019-o-ano-internacional-da-tabela-periodica/#respond Mon, 08 Oct 2018 17:34:28 +0000 http://dicasdevestibular.blogosfera.uol.com.br/?p=1759 Tabela periódica

Em 20 de dezembro de 2016, a Organização das Nações Unidas (ONU), por meio da UNESCO e com o apoio da IUPAC, declarou 2019 o Ano Internacional da Tabela Periódica. O ano foi escolhido pois em 2019 fará 150 anos da proposição da tabela periódica e coincidirá com o aniversário de 100 anos da IUPAC (União Internacional de Química Pura e Aplicada).

A tabela periódica como conhecemos hoje foi proposta em 1869 pelo russo Dmitri Mendeleev de forma a organizar os elementos químicos. Os que possuem propriedades semelhantes foram colocados numa mesma coluna, mas, durante a organização, Mendeleev percebeu que parecia faltar alguns elementos e resolveu deixar alguns espaços em branco. Hoje, todos esses espaços foram preenchidos.

É importante o vestibulando associar a estrutura do átomo com a tabela periódica e saber que os elementos não foram colocados nela de forma aleatória. É necessário conhecer como a tabela foi organizada: os elementos químicos estão listados por ordem crescente de seu número atômico (número de prótons no núcleo). O hidrogênio é o primeiro elemento, pois possui um próton no seu núcleo; o hélio é o segundo elemento, pois possui dois prótons no seu núcleo e assim por diante.

As linhas horizontais são denominadas períodos e indicam o número de camadas eletrônicas. As linhas verticais são chamadas de famílias ou grupos (elementos do mesmo grupo apresentam propriedades semelhantes). Para os elementos representativos (bloco A da tabela), o número da família representa o número de elétrons da camada de valência.

Outra divisão importante da tabela é a de metais, ametais e gases nobres. Os metais representam a maior parte dos elementos da tabela e possuem as seguintes propriedades: sólidos a 25°C (exceto o mercúrio, que é líquido) são bons condutores de calor e eletricidade, são dúcteis e maleáveis (propriedades de fazer fios e lâminas, respectivamente). Os ametais em geral são isolantes térmicos e elétricos e seu estado físico varia; os gases nobres são gasosos a temperatura ambiente e inertes quimicamente.

No espaço reservado para cada elemento químico constam dois números: o número de prótons e o número de massa. O número de massa é a soma de prótons mais nêutrons, logo o maior valor apresentado refere-se ao número de massa. Esse valor é importante para exercícios que envolvem transformação de massa em mol e vice-versa, como exercícios de estequiometria, soluções e mol.

O vestibulando precisa conhecer a prova que irá prestar. Por exemplo, nas provas realizadas pela Vunesp (Unesp, Santa Casa, Albert Einstein, Santa Marcelina, etc) e Enem, a tabela periódica é fornecida e é importante o vestibulando criar o hábito de consultá-la ao fazer as tarefas. A Fuvest não fornece em sua prova a tabela, mas qualquer dado necessário é fornecido na forma de note e adote.

Os examinadores buscam em suas questões fazer contextualizações, e um assunto que tem grandes chances de aparecer nas próximas provas é tabela periódica. Por isso, ao iniciar os estudos de química, tenha sempre por perto uma tabela, pois, ao usá-la com frequência, você estará sempre lembrando sua organização e como tirar dela as informações necessárias.

Paulo Martimiano

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A transposição do rio São Francisco http://dicasdevestibular.blogosfera.uol.com.br/2018/09/24/a-transposicao-do-rio-sao-francisco/ http://dicasdevestibular.blogosfera.uol.com.br/2018/09/24/a-transposicao-do-rio-sao-francisco/#respond Mon, 24 Sep 2018 17:03:12 +0000 http://dicasdevestibular.blogosfera.uol.com.br/?p=1743 Obras_da_Transposição_do_Rio_São_Francisco,_em_Cabrobó,_Pernambuco,_Brasil

Obras da Transposição do Rio São Francisco, em Cabrobó, Pernambuco

Em 2007, iniciou-se uma das mais polêmicas obras dos últimos anos no Brasil: a transposição do rio São Francisco, que tem como objetivo o desvio de parte das águas do Velho Chico para áreas do semiárido nordestino. Entre 2017 e 2018, parte das obras foi finalizada e inaugurada, e a transposição do rio São Francisco ganhou novamente destaque nos noticiários, o que pode originar novas questões de vestibulares sobre o tema.

Apesar de parecer um projeto recente, a ideia da transposição remonta ao século XIX, quando, ainda no tempo do Brasil Império, discutia-se a possibilidade de as águas do São Francisco serem utilizadas para minimizar os impactos dos baixos índices de pluviosidade na região. Até as obras finalmente se iniciarem, houve muitas discussões sobre a viabilidade e o potencial do projeto, que só começou a sair do papel em 2007.

O projeto da transposição do São Francisco envolve a construção de dois canais principais de desvio de água, denominados de Eixo Norte e Eixo Leste, como pode ser observado no mapa abaixo.

Mapa do Projeto de Integração do São Francisco

As águas desviadas pelos canais artificiais abastecerão, de forma perene, trechos do sertão de Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará. O projeto prevê ainda a construção de estações de bombeamento, que, apesar de expandir o alcance das obras, resulta também no aumento do seu custo final.

Desde que o projeto da transposição do São Francisco começou a se consolidar, diversos agentes sociais, econômicos e políticos se manifestaram a favor de sua execução ou contrários a ela. Em geral, as questões de vestibulares que envolvem a transposição abordam alguns desses impactos.

Entre os impactos positivos, pode-se ressaltar que a transposição do São Francisco possibilita o fornecimento de água para aproximadamente 12 milhões de pessoas, segundo o Governo Federal. Esse volume de água poderá também estimular a economia local, especialmente com a introdução de práticas agrícolas irrigadas. As obras da transposição ainda geram milhares de empregos locais.

Os críticos da transposição, por sua vez, alegam que o seu custo é elevado. Inicialmente, estava orçado em aproximadamente 4,5 bilhões de reais, e em 2018, com parte das obras já finalizada, estima-se que o custo final deva ultrapassar 9 bilhões de reais. Além disso, o projeto inicial previa a conclusão em 2014, o que não ocorreu de fato. Outro argumento importante contra a transposição é que o desvio de água pode reduzir os níveis do rio São Francisco, o que pode afetar diversas atividades no curso do rio, como a irrigação, a produção de hidroeletricidade e o abastecimento de comunidades ribeirinhas.

Apesar de ser polêmica, a transposição do rio São Francisco tende a minimizar os impactos da seca no Sertão Nordestino, além de permitir que parte da população local seja beneficiada pela dinamização das atividades econômicas locais. Ainda assim, os debates a respeito da transposição permanecerão, e em breve será possível avaliar se de fato a sua construção foi a melhor opção para melhorar a vida da população do semiárido nordestino.

hugo_anselmo

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Dicas para gabaritar a prova de inglês do Enem http://dicasdevestibular.blogosfera.uol.com.br/2018/08/27/dicas-para-gabaritar-a-prova-de-ingles-do-enem/ http://dicasdevestibular.blogosfera.uol.com.br/2018/08/27/dicas-para-gabaritar-a-prova-de-ingles-do-enem/#respond Mon, 27 Aug 2018 16:01:59 +0000 http://dicasdevestibular.blogosfera.uol.com.br/?p=1721

Gabaritar a prova de inglês no Enem pode ser um enorme handicap para você alcançar o seu grande objetivo. Para tal, você deve compreender melhor o método avaliativo do exame, além de aumentar o ritmo de leitura. Um bom preparo, a partir da agora, poderá ser essencial.

A habilidade de entendimento de texto e seus mecanismos como forma de ampliar o acesso à informação tem sido a “medula espinhal” da prova a ser averiguada. Entenda como “texto” os diversos gêneros textuais, que podem ser uma reportagem, uma crítica, uma letra de música, um anúncio, um poema, etc., e os recursos utilizados para averiguação são os verbais e não verbais. Geralmente, as perguntas abordam o sentido geral do texto.

Buscar ampliar o ritmo de leitura é uma boa iniciativa para o candidato que quer se preparar bem para a prova. Você deve começar lendo assuntos de seu interesse num primeiro momento, observar letras de música, cartuns e interpretar poemas contemporâneos. Logo, você vai perceber que os vocábulos começam a se repetir, e isso pode ser essencial para seu upgrade e para se manter mais conectado com tudo o que está ao seu redor.

Refazer os exames anteriores lhe possibilitará saber como a prova se comporta, como são elaborados os distratores e quais os tipos de textos abordados. Você logo perceberá que essas orientações serão de suma importância.

É isso, caro candidato, cara candidata: a preparação deve vir através de aumento do repertório, com a subsequente melhora do vocabulário, e do conhecimento de como as provas anteriores abordaram os diversos temas.

Bom trabalho!

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Sai Eça, entra Eça http://dicasdevestibular.blogosfera.uol.com.br/2018/08/13/sai-eca-entra-eca/ http://dicasdevestibular.blogosfera.uol.com.br/2018/08/13/sai-eca-entra-eca/#respond Mon, 13 Aug 2018 16:12:46 +0000 http://dicasdevestibular.blogosfera.uol.com.br/?p=1702 Relíquia Livro

Todos os anos, a Fuvest divulga a sua tão esperada lista de leitura obrigatória. Para os exames de 2019, é o caso de se perguntar: há algo de novo nessa lista? Entre as listas para os exames de 2018 e 2019, o escritor português Eça de Queirós foi substituído por… Eça de Queirós. O romance A cidade e as serras permaneceu como leitura obrigatória até os exames de 2018. Para o vestibular deste ano, com ingresso nas universidades em 2019, a Fuvest solicita A relíquia, do mesmo autor. É impossível evitar a pergunta: qual a razão dessa troca?

As respostas poderiam ser muitas, inclusive a mais evidente: A relíquia é um grande livro. No entanto, não conta entre as obras mais conhecidas do autor, aquelas que exercem uma sedução maior sobre os estudantes, como O primo Basílio ou O crime do Padre Amaro. Outra resposta, igualmente aceitável, diz respeito à renovação do repertório. Mas, neste caso, pode-se perguntar por que essa renovação se restringiu ao romance de Eça, já que nenhum outro livro da lista foi trocado. Talvez se pudesse falar em alguma diferença de estilo. Contudo, fato é que o escritor foi relativamente ousado nas duas obras, permitindo-se certos desvios das convenções realistas: em A cidade e as serras, através de imagens idílicas do campo e da natureza; e, em A relíquia, em uma inverossímil viagem no tempo, que foi, de fato, condenada por parte da crítica realista do século XIX.

A leitura de qualquer obra de Eça de Queirós costuma trazer algumas dificuldades aos alunos; vencê-las é bastante compensador. A insistência do autor em descrições demoradas, por exemplo, atende ao projeto realista de aproximar o relato da realidade a que se refere. Se o leitor se dedica a construir na sua imaginação o ambiente ou a personagem que está sendo descrita, conseguirá tirar todo proveito desse recurso. O humor de Eça também está sempre presente, mas sua sutileza por vezes passa despercebida – o que é um bom teste para o aluno atento e sensível. Composição de personagens, expressões que se repetem, gestos explícitos, pensamentos inconfessáveis são outros tantos elementos do estilo de Eça de Queirós para os quais o leitor deve voltar sua atenção.

No caso específico de A relíquia, é bom refletir sobre duas questões que o livro levanta. A primeira diz respeito às reflexões em torno da religiosidade que a narrativa suscita. O leitor é levado a duvidar das suas próprias certezas, místicas ou não. Só essa postura polêmica já bastaria para que o estudante se sentisse estimulado a encarar essa substituição. A segunda questão é colocada pela epígrafe da obra: “Sobre a nudez forte da verdade, o manto diáfano da fantasia”. Ela se refere aos fatos do enredo, mas pode ser estendida para uma concepção estética: assim como esse manto, a fantasia, isto é, a arte, não esconde a verdade, mas auxilia a mostrá-la em toda a sua nudez. Essa lição de Eça ilumina não apenas a leitura de A relíquia, mas de toda a lista de livros. E vale para todas as listas.

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