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Como as históricas pandemias são cobradas nos vestibulares

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30/04/2020 17h37

*Por Gianpaolo Dorigo, professor de História do Anglo Vestibulares

Uma prova de História não é uma prova de Atualidades, e isso é válido tanto para o ENEM quanto para os grandes vestibulares. Todavia, temas ou preocupações contemporâneas podem servir de pretexto para investigar situações semelhantes no passado, e isso é recorrente em diversas avaliações. Nesse contexto, chamam a atenção dois importantes acontecimentos: a peste negra de 1347 e a gripe espanhola de 1918-1919.

No caso da Peste Negra, é importante relacionar a expansão da pandemia com a dinamização da grande rota comercial que ligava a Europa à Ásia (via mediterrâneo e rota da seda) ocorrida nos séculos finais da Idade Média. Pela grande rede de caminhos terrestres e marítimos que atravessava esses espaços circulavam mercadorias e pessoas, riquezas e germes – quase uma antecipação do processo de globalização que vivemos. É importante destacar também o processo de urbanização ocorrido nesse período, sobretudo na Europa, e que resultou na construção de cidades "atravancadas", em que predominavam condições de higiene precárias, adequadas à expansão de doenças.

No caso da gripe espanhola, é necessário relacionar a pandemia com o contexto da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), que promoveu uma ampla circulação de efetivos militares em todo o mundo (na casa de milhões de soldados, além de refugiados), bem como com as condições insalubres das trincheiras, tão características desse conflito. Aparentemente, o vírus da gripe espanhola teria surgido em 1917, no Kansas, região conhecida pela criação de gado, e transferido para a Europa junto com os soldados do exército dos Estados Unidos. A doença disseminou-se em meios às trincheiras e, com o final da guerra, tornou-se uma pandemia, com a desmobilização das tropas (que voltaram para seus países de origem), libertação de prisioneiros de guerra e movimento de refugiados – na medida em que os tratados do pós-guerra criavam novas fronteiras.

Na gripe espanhola, ocorreu uma importante politização da enfermidade: durante a guerra, era necessário que a existência de uma epidemia não fosse de conhecimento do inimigo. Dessa forma, muitas medidas sanitárias simplesmente não foram tomadas. O próprio nome da gripe, "espanhola", foi consequência dessa situação: como a Espanha foi um dos poucos países europeus não envolvidos no conflito, as notícias sobre a epidemia eram divulgadas abertamente, dando a impressão de que a doença só existia nesse país.

Convém lembrar também a relação entre o desenvolvimento e mutações de vírus em áreas de criação de mamíferos (gado bovino, suíno etc.). Se, por um lado, essas criações acabam resultando em problemas de saúde, por outro, o organismo das populações que convivem com elas acaba por desenvolver defesas. Como consequências, populações que não se dedicam a esse tipo de criação em larga escala são menos propensas às doenças, mas, ao mesmo tempo, mais frágeis quando em contato com aquelas trazidas de fora – o que se verificou de forma dramática entre as populações nativas da América em seu contato com europeus.

Ainda no contexto da politização da saúde pública, chamam atenção os episódios que resultaram na Revolta da Vacina em 1904, no Rio de Janeiro. Como se sabe, a criação da lei de vacinação obrigatória contra a varíola foi o estopim do movimento, que se manifestou através de grande participação popular. Outros fatores explicam a revolta contra a vacina, como a urbanização do Rio de Janeiro, e o consequente deslocamento forçado da população mais pobre do centro para a periferia, com o objetivo de construir novas avenidas e monumentos. Mas é importante acrescentar o fato de que grupos de oposição florianistas (afastados do poder desde 1898) e positivistas se aproveitaram da situação para tentar se rearticular, ocorrendo inclusive uma sublevação da Escola Militar da Praia Vermelha durante a revolta.

Sobre os Autores

O Dicas de Vestibular é produzido e atualizado pelos professores do Anglo Vestibulares e do Sistema Anglo de Ensino.

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