Gêneros textuais no ENEM
*Por Eduardo Calbucci, professor do Anglo Vestibulares
Durante muito tempo, os exames para ingresso no ensino superior se preocupavam, basicamente, com o domínio da norma-padrão da língua e com a leitura do texto literário. É verdade que esses dois assuntos continuam aparecendo – e muito – no Enem e nos principais vestibulares do país, mas eles dividem espaço com outros temas, como variação linguística e gêneros textuais.
Em relação aos gêneros, lembremos que, desde a Grécia Antiga, com os gêneros retóricos e literários, existe uma preocupação em agrupar os textos que circulam socialmente em núcleos com características comuns. Mas, no mundo atual, elaborar uma lista ampla de gêneros, como os gregos tentaram fazer, não é tarefa simples: primeiro, porque os gêneros textuais são fenômenos históricos que nascem, desenvolvem-se e, às vezes, desaparecem no seio de cada cultura (conversas em aplicativos de mensagem de celular não existiam há quinze anos, por exemplo); segundo, porque há muitas categorias profissionais que têm seus gêneros próprios, como o caso dos advogados, que distinguem uma petição inicial de um mandado de segurança A notícia boa é que o Enem e os principais vestibulares do país não vão exigir o conhecimento de gêneros de baixa circulação social ou específicos de certos grupos profissionais.
Agora, se os gêneros são conjuntos de textos com propriedades comuns, quais seriam essas propriedades? O linguista russo Mikhail Bakhtin propôs que dois textos diferentes pertenceriam ao mesmo gênero se eles tivessem o mesmo conteúdo temático, o mesmo estilo e a mesma forma composicional.
O conteúdo temático remete ao grande assunto do texto e aponta para os temas habituais de que trata o gênero em questão. Por exemplo: todo diário traz reflexões pessoais a respeito de eventos cotidianos, embora cada um tenha suas particularidades. Dizemos que o diário é um gênero porque o grande assunto é sempre o mesmo nesses textos.
O estilo está mais ligado à linguagem empregada, o que pode remeter às palavras escolhidas, ao grau de formalidade, à organização sintática, aos recursos discursivos. Quando falamos de estilo, estamos pensando em variação linguística e na compatibilidade entre a linguagem utilizada e a competência interpretativa do público-alvo.
A forma composicional, que também pode ser chamada de estrutura de composição, engloba as partes constituintes do texto, que podem ser mais rígidas, como em uma certidão de nascimento ou um atestado de óbito, ou mais maleáveis, como em uma postagem para um grupo de amigos numa rede social.
Conhecer e identificar gêneros textuais é importante para a produção e para a interpretação textual. No âmbito da produção, a noção de gênero orienta como escrever e falar (escrever uma dissertação clássica é mais fácil para um vestibulando do que escrever uma bula de remédio); no processo de leitura, essa noção oferece indícios de como o texto deve ser interpretado (ninguém lê um enunciado de uma questão de Geografia da mesma forma que lê uma piada).
Assim, compreender que todo texto pertence a um gênero e que cada gênero apresenta um propósito comunicativo aumenta nossa capacidade de leitura e escrita, o que é essencial em qualquer exame de ingresso ao ensino superior.
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