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Pescar palavras: os critérios que norteiam uma boa redação nos vestibulares

Dicas de Vestibular

04/12/2017 16h17

 

Você já leu o livro "O velho e o mar", de Ernest Hemingway? Basicamente, esse pequeno livro, com cerca de 100 páginas, escrito em 1951 –  que rendeu o prêmio Pulitzer ao autor – versa sobre a tentativa de Santiago, um experiente pescador, pegar nem que seja um único peixe depois de um longo período de insucessos. AVISO DE SPOILER! Sim, ele pesca o peixe. A luta dura três dias, mas, enfim, o peixe sucumbe à insistência do pescador.

Você pode estar agora com a sensação de que sabe tudo a respeito da obra e que já pode se gabar com seus amigos dizendo que leu um clássico. Não, inocente, você não sabe de nada… o mais importante ainda está por vir. O pescador pega um peixe de grandes proporções, um peixe espada, e seu pequeno pesqueiro talvez não suporte o peso do animal: ainda que cause instabilidades, amarrá-lo ao barco deve ser a solução mais adequada. Há, nesse instante, um novo problema a enfrentar: o mar está cheio de tubarões, famintos, desejando aquela presa fácil, imobilizada, pronta para ser consumida… Agora você vai ter de ler para saber se o que Hemingway conta é uma história que culmina em "sucesso" ou "fracasso".

São dois livros em um só, duas diferentes temáticas, ainda que complementares: para ser um pescador competente, não basta apenas pegar o peixe, é preciso conduzi-lo a salvo à terra firme, determinar seu preço e comercializá-lo. Estamos diante de uma metáfora que certamente se aplica a vários momentos de nossas vidas: ainda que consigamos obter algo que muito desejamos, como fazer para conservá-lo sob nosso domínio? O que torna o livro atemporal e uma grande obra-prima não é o por ele versar sobre pescarias, mas o fato de ele transcender o ato cotidiano e discorrer sobre os limites da capacidade humana diante de uma natureza cruel, em que a sobrevivência depende de muita luta, numa infinita cadeia de perdas e ganhos. Ao se classificar um texto como "bom" não se leva em conta somente a temática, aquilo sobre o qual se discorre; a avaliação não está, portanto, ancorada apenas naquilo que se diz, mas também em como se planeja para dizê-lo: como o raciocínio é transmitido ao leitor.

 

A REDAÇÃO NO VESTIBULAR: OS CRITÉRIOS DE CORREÇÃO

 

A avaliação da redação produzida pelos candidatos, no vestibular, nunca é "subjetiva":  existem critérios de correção que orientam os examinadores na hora de classificar os textos.  Cada instituição tem sua própria grade de correção e determina o peso de cada um dos critérios, mas atende, basicamente, às mesmas exigências:

  1. Adequação à proposta. Neste critério, avalia-se a capacidade de o candidato analisar, com maior ou menor profundidade, a questão posta em debate.  Dicas: Uma boa leitura da coletânea de textos e a postura crítica diante do tema são passos iniciais para a construção de uma redação eficiente.
  2. Adequação ao tipo de texto. A dissertação ainda é o tipo mais comum nos exames vestibulares, mas há universidades, como a PUC e a UNICAMP, que solicitam outros gêneros discursivos, como a carta, a narração, o resumo ou resenha, por exemplo. Na dissertação, o respeito à estrutura ortodoxa é fundamental:Dicas: Na introdução deixe claro o tema, seu posicionamento a respeito dele e crie uma contextualização pertinente. No desenvolvimento, ocupe-se em fazer o leitor a crer na validade de sua tese, mostrando claramente o raciocínio que o levou a defender determinada visão de mundo. A conclusão é o momento de encerrar a discussão: nunca coloque ideias novas e lembre-se:  apesar de o ENEM ser o único vestibular a exigir proposta de intervenção, essa forma de conclusão é aceita nas demais instituições. Caso não seja possível elaborar proposta, vale fazer uma síntese do raciocínio anteriormente exposto.
  3. Posicionamento crítico/argumentação. Neste quesito, avalia-se a capacidade de o candidato mobilizar conhecimentos e opiniões, de argumentar de maneira coerente, utilizando tipos de argumentos variados.  Dicas: atenção à clareza, evite generalizações e argumentos apoiados no senso-comum.
  1. Coerência. Grosso modo, a coerência é determinada pela compatibilidade entre as partes do texto (interna) e entre o texto e os dados da realidade (externa). Dicas: demonstre amplo conhecimento de mundo; cuide bem da adequação das seleções e das combinações lexicais.
  2. Coesão. A coesão se refere ao fato de como as palavras estão ligadas entre si dentro de uma sequência textual. As anáforas, as catáforas e as expansões lexicais são alguns dos expedientes coesivos. Dicas:  esteja atento à elaboração de frases, períodos e parágrafos do texto, bem como à utilização de conectores – conjunções – para o estabelecimento das relações lógicas e da progressão das ideias do texto.
  3. Recursos de linguagem/expressividade. Estes critérios são relativos à apropriação, por parte do candidato, dos recursos e dos mecanismos linguístico-discursivos. Dicas: atenção à correção gramatical, à utilização de figuras de linguagem e a outras estratégias linguísticas que confiram mais expressividade à sua produção textual.

 

Em suma, crie um projeto de texto, organize suas ideias, lute para defendê-las. Um bom texto é construído com muito trabalho, com muita transpiração. Você vai sentir sua mão doer ao ler "O velho e o mar". Sei que parece estranho, mas isso você só vai entender depois de, verdadeiramente, conhecer o livro…

Boa prova a todos!

 

Sobre os Autores

O Dicas de Vestibular é produzido e atualizado pelos professores do Anglo Vestibulares e do Sistema Anglo de Ensino.

Sobre o Blog

Neste espaço, o estudante encontra temas da atualidade, conteúdos que mais caem nas provas e dicas para se sair bem nos processos seletivos e no Enem (Exame Nacional do Ensino Médio). O conteúdo também é útil aos interessados em provas de concursos.

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